Folha de S.Paulo

Akihito, 82 anos, imperador do Japão, indica que deseja abdicar

Em raro pronunciam­ento na TV, Akihito, 82, diz sentir ‘limitações físicas’ para cumprir com as funções do cargo

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Monarca evita usar o termo ‘abdicação’, já que a Constituiç­ão japonesa não prevê esse tipo de mecanismo

Em um raro pronunciam­ento pela TV, o imperador do Japão, Akihito, 82, expressou preocupaçã­o nesta segunda-feira (8) sobre sua capacidade para continuar cumprindo com suas obrigações e deu a entender que espera uma reforma das leis que o obrigam a exercer o cargo até sua morte.

“Às vezes sinto várias limitações com meu estado físico (...). Queria falar a vocês hoje sobre o que seria o papel desejável de um imperador”, afirmou Akihito.

No cargo desde 1989, ele evitou mencionar a palavra “abdicação”, já que a Constituiç­ão japonesa do pós-Segunda Guerra Mundial (19391945) não prevê esse mecanismo –na prática, o imperador tem de se manter no cargo de forma vitalícia.

No mês passado, a TV pública NHK já havia divulgado que Akihito pretendia abdicar do trono em favor de seu primogênit­o, o príncipe Naruhito, 56.

Com saúde frágil, o imperador já tratou de um câncer de próstata em 2003 e fez uma cirurgia cardíaca, em 2012.

A Lei da Casa Imperial, de 1947, estabelece uma regência “se o imperador não alcançar a maioridade” ou “quando estiver sofrendo de uma doença grave, mental ou fisicament­e, ou exista um obstáculo sério que o incapacite para exercer”.

Akihito citou a regência em seu discurso, mas lembrou que, “mesmo nesses casos, nãomudaofa­todequeoim­perador continua a ser imperador até o resto de sua vida, mesmo quando incapaz de cumprir suas obrigações”.

Considerad­o o “símbolo do Estado e da unidade do povo” pela Constituiç­ão, o imperador é uma figura cerimonial, sem poderes políticos. No entanto, costuma ter uma agenda com muitos eventos.

Em 2011, por exemplo, Akihito e a imperatriz, Michiko, visitaram várias cidades destruídas pelo terremoto seguido de tsunami para consolar parentes de vítimas.

Akihito disse ainda estar preocupado que a sociedade japonesa fique em um impasse diante do costume de haver um longo período de cerimônias pela morte de um imperador, que coincidem com os primeiros atos do novo reinado. “Ocorre-me, de tempos em tempos, descobrir como é possível evitar esse tipo de situação.”

O governo japonês disse que o discurso tem de ser visto “com seriedade”.

“Levando-se em conta as obrigações do imperador, assim como sua idade e a carga (de seu trabalho), temos que ver firmemente o que podemos fazer”, afirmou o primeiro-ministro, Shinzo Abe. APARIÇÃO RARA O pronunciam­ento de Akihito à nação foi apenas o segundo de um imperador do Japão a ser television­ado —o primeiro ocorreu em março de 2011, logo após o desastre nuclear de Fukushima.

Antes disso, só o pai dele, Hirohito (1901-1989), havia falado ao país, via rádio, em 15 de agosto de 1945, ao anunciar a rendição incondicio­nal do Japão com o fim da Segunda Guerra.

 ?? Toru Yamanaka/AFP ?? Em uma praça de Tóquio, japoneses acompanham o discurso do imperador Akihito em um telão, nesta segunda-feira
Toru Yamanaka/AFP Em uma praça de Tóquio, japoneses acompanham o discurso do imperador Akihito em um telão, nesta segunda-feira

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