Folha de S.Paulo

Medalha para a música

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RIO DE JANEIRO – É um consenso. A melhor música do século 20 foi produzida em três países: Estados Unidos, Brasil e Cuba — Inglaterra perto, mas fora do pódio. Vale a ressalva segundo a qual os cubanos ganharam sua medalha com resultados contando até 1959, quando a revolução de Fidel Castro resolveu acabar com o “som de prostíbulo”, banindo os discos de Benny Moré e Bola de Nieve e obrigando os artistas ao exílio ou ostracismo no próprio país.

Daí o orgulho do brasileiro em saber que, além do futebol, fazíamos outra beleza para espantar o mundo — e quantos não tivemos a experiênci­a de, estando no exterior, ouvir um Ary Barroso ou um Luiz Gonzaga e ter vontade de chorar de emoção?

Jogar bola parece que não sabemos mais, desaprende­mos ou ficamos parados no tempo. A abertura dos Jogos deu a chance de mostrar (a nós mesmos) que a música ainda é nossa praia. O “ainda”, no caso, não é muleta de linguagem, pois os septuagená­rios — Paulinho da Viola, Jorge Ben, Caetano Veloso, Gilberto Gil —, uma quase octogenári­a — Elza Soares — e um oitentão propriamen­te dito — Wilson das Neves — salvaram a pátria.

Aos 65, Luiz Melodia provou que é um dos melhores cantores brasileiro­s. A homenagem a Tom Jobim, com “Garota de Ipanema” e “Samba do Avião”, quase fez esquecer que ele dá nome ao mascote dos Jogos Paraolímpi­cos (Vinicius é o dos Olímpicos) — dois bichinhos que conseguem ser mais sem graça que os Pokémons.

Não teve axé, forró universitá­rio, breganejo nem safadões. Vexame só a repressiva “lei da limpeza”, que faz a Força Nacional retirar dos estádios e arenas quem protesta visualment­e contra o governo. Na categoria mico da Olimpíada, ocupa até agora o primeiro lugar; em seguida, vem o interino Michel Temer, que, com medo da famosa vaia do Maracanã, pediu para não ser anunciado ao abrir a cerimônia.

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