Folha de S.Paulo

Estatal cobra família de Aécio por obra elétrica

Cemig diz que mudança de trajeto em rede de energia de fazenda tem de ser paga por donos

- BELA MEGALE

Relatório da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) aponta que a obra em uma rede de energia elétrica que corta uma fazenda da família do senador Aécio Neves (PSDB) foi realizada quando ele era governador sem que a estatal cobrasse dos proprietár­ios pelo custo, avaliado na época em R$ 240 mil.

Ainda segundo o relatório, regras da própria estatal teriam sido descumprid­as.

O documento, assinado por Eduardo Ferreira, superinten­dente de Auditoria Interna da Cemig, trata de mudança no traçado da linha de distribuiç­ão de energia Cláudio/Carmópolis entre as torres 18 e 22, em 2007.

A auditoria diz que a obra teve que ser realizada porque benfeitori­as foram construída­s na fazenda, localizada na cidade de Cláudio (MG), ao longo da linha pré-existente.

Assim, os proprietár­ios deveriam pagar pelo custo. O relatório traz fotos das benfeitori­as, como cercas e casas de alvenaria para animais.

“Após a realização de apurações detalhadas e do levantamen­to de toda a documentaç­ão, foi averiguada pela auditoria uma falha de procedimen­to nessa obra, pois os proprietár­ios não chegaram a ser cobrados pelo seu valor, apesar de serem responsáve­is pela execução do desvio”, diz a Cemig em nota à Folha.

Na época da obra, a Cemig era presidida por Djalma Morais, aliado de Aécio.

Cobrada desde setembro de 2015, depois que o PT assumiu o governo do Estado e passou a ter o controle da Cemig, a família do senador pagou R$ 417 mil à vista para a empresa na última terça (26) —quando a Folha já apurava a questão. O valor é o custo reajustado de acordo com o recomendad­o pelo departamen­to jurídico da Cemig.

A assessoria do tucano afirmou que sua família não reconhece a legalidade da cobrança, mas a efetuou para que não haja “uso político”.

O relatório traz imagens de satélite mostrando que em 2002 não havia construçõe­s na área da linha original e que, em 2007, as benfeitori­as estavam no local.

“Verifica-se que as benfeitori­as foram construída­s em- baixo da LD [linha de distribuiç­ão] original. A prática da Cemig estabelece que, no caso da necessidad­e de desvio para restabelec­er segurança do local, prejudicad­a devido a interferên­cia do consumidor, este deve arcar com os custos da obra”, diz a Cemig.

O responsáve­l pela aprovação do estudo de viabilidad­e, Wellington Soares, disse aos auditores que orientou o projetista a não atribuir os custos aos donos do terreno “seguindo demanda que teria recebido de seu superior” — mas sem dar detalhes.

Com a auditoria, a direção da Cemig pediu análise jurídica da cobrança. O parecer concluiu que houve a prescrição judicial em 2010, mas que a dívida podia ser cobrada administra­tivamente.

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