Visita sela reaproximação de Rússia e Turquia
Encontro entre Erdogan e Putin pode recompor alianças; turco ressente crítica ocidental
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, deve se reunir nesta terça (9) com o russo Vladimir Putin, no primeiro encontro entre os dois desde que a Turquia derrubou um caça russo perto da fronteira síria, em novembro.
Em entrevista a uma agência de notícias russa, Erdogan se disse disposto a retomar as relações e a cooperação militar, econômica e cultural. O atrito diplomático de novembro levou a sanções econômicas e à queda de 87% no total de turistas russos no país no primeiro semestre de 2016.
O encontro, em São Petersburgo, deve incluir conversas sobre o conflito civil sírio, em andamento desde 2011. Turquia e Rússia têm posições conflitantes: enquanto Erdogan pede a saída do ditador Bashar al-Assad, Putin é um dos mais poderosos —e raros— aliados do regime sírio.
Os dois países são cruciais para a solução do conflito.
A Turquia tem uma extensa fronteira com a Síria, por onde passam militantes que se unem à organização terrorista Estado Islâmico.
A Rússia, por sua vez, bloqueou uma série de medidas contra a Síria no Conselho de Segurança da ONU, no qual tem poder de veto. Um acordo para a transição no país, se um dia houver, provavelmente passará por Moscou.
Outro tema problemático na agenda é o apoio russo aos curdos na Síria. A Turquia está em conflito com curdos em seu próprio território.
EMPATIA A viagem à Rússia é a primeira visita ao exterior de Erdogan desde a tentativa frustrada de golpe em 15 de julho.
Pode marcar um redesenho das alianças na região após sucessivas críticas de Ancara aos EUA e a líderes europeus, seus aliados na Otan, pela reação morna à crise no país.
Mais de 240 pessoas foram mortas em embates no dia 15. Erdogan acusa o clérigo Fetullah Gülen, exilado nos EUA, de ter orquestrado as ações. O clérigo nega.
Erdogan tem repetido seu descontentamento em relação a líderes ocidentais, e, em entrevista publicada nesta segunda (8) pelo jornal “Le Monde”, reclamou da falta de empatia com seu país.
“O mundo reagiu ao atentado contra o [semanário satírico francês] ‘Charlie Hebdo’ [que deixou 12 mortos em janeiro de 2015]. Nosso premiê se uniu à marcha em Paris”, afirmou ao “Monde”.
“Esperava que os líderes do mundo ocidental reagissem da mesma forma ao que ocorreu na Turquia e não se contentassem com clichês.”
O líder turco também repeliu críticas à sua reação à tentativa de golpe, que inclui a exoneração e a detenção de milhares de militares, juízes e funcionários públicos, além de professores e jornalistas.
Nesta segunda (8), a Turquia anunciou que dez estrangeiros foram detidos por suspeita de laço com Gülen, sem revelar suas origens.