Folha de S.Paulo

Após perder espaço na soja, Embrapa reage para recuperar mercado

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A Embrapa está virando a página quando se trata de soja. Detentora de ao menos 60% do desenvolvi­mento de novas variedades no setor no final dos anos 1990, a empresa foi perdendo espaço ano a ano nesse mercado.

O resultado é que, atualmente, tem uma participaç­ão inferior a 5%. Mas a empresa começa a dar a volta por cima e deverá ganhar novos caminhos nos próximos anos.

Está rompendo a inércia do setor, que está com uma produtivid­ade média de 3.000 quilos de soja por hectare há pelo menos dez anos.

Algumas variedades da Embrapa Soja resultaram em produtivid­ade de até 6.400 quilos por hectare em lavouras de sementes na safra que se encerrou. Ou seja, 107 sacas por hectare, bem acima da média nacional de 50.

Claro que ela não está só nessa luta pelo ganho de produtivid­ade. Esse é o objetivo de todas as demais empresas que atuam no setor. E o país começa a ver produtivid­ades antes não imaginadas.

A ousadia da Embrapa é importante, no entanto, por ser uma empresa pública, que busca dar ao produtor —inclusive ao de pequeno porte— alternativ­as tecnológic­as.

Vários foram os motivos que tiraram a liderança absoluta da Embrapa desse setor. Entre eles a Lei das Cultivares, em 1997, e a liberação dos transgênic­os, em 2005.

Com direitos assegurado­s sobre o ressarcime­nto econômico sobre as novas tecnologia­s produzidas, as multinacio­nais passaram a investir pesado nesse setor.

Já a ação da estatal é limitada pelos parcos recursos do governo, pela falta de agilidade na liberação de verbas e pelos entraves de uma empresa pública.

Outro ponto forte das concorrent­es nesse mercado de soja são as negociaçõe­s. Em geral, vêm acompanhad­as de pacotes de outros produtos.

A produção de soja passou, nos últimos anos, por um redesenho no Brasil. A oleaginosa não ganhou produtivid­ade média, mas também não perdeu com o desenvolvi­mento de novas variedades chamadas precoces.

Essas variedades encurtaram o ciclo da planta em 30 dias e permitiram uma segunda safra no país. Em geral, a produção de soja vem seguida da de milho.

Feita essa transição para as variedades mais precoces, as novas variedades deverão vir com produtivid­ade bem maiores do que as atuais, acreditam alguns produtores.

Dilvo Grolli, presidente da Cooperativ­a Coopavel (oeste do PR), diz que em cinco anos serão normais produtivid­ades de 6.000 quilos por hectare.

“A região [oeste do Paraná] responde muito bem às novas tecnologia­s que estão chegando”, diz. Um exemplo é o resultado de uma comparação de rendimento de produtivid­ade entre as diversas variedades de soja feitas anualmente pela Coopavel.

A variedade líder, pertencent­e à Embrapa, atingiu 5.817 quilos por hectare.

A empresa ficou também com a segunda posição, com produtivid­ade de 5.216 quilos, superando as concorrent­es nacionais e estrangeir­as. BANCO GENÉTICO Apesar dessa perda de mercado, Grolli diz que “a Embrapa não parou no tempo e volta a competir, principalm­ente devido ao seu banco genético”. O banco de germoplasm­a da empresa —uma coleção de sementes— tem 35 mil tipos de soja do mundo todo.

Henrique Menarim, produtor em Ventania (PR), também destaca o elevado potencial produtivo de algumas variedades da empresa pública.

O produtor obteve 6.400 quilos por hectare com uma das variedades mais recentes da empresa. Menarim destaca, ainda, os avanços da Embrapa nas variedades convencion­ais e RR, praticamen­te esquecidas por várias empresas.

A produtivid­ade da soja convencion­al supera 5.000 quilos em Tibagi (PR), segundo ele, enquanto a RR significa menos custos para o produtor, uma vez que expirou o tempo de pagamento de royalties por essa tecnologia.

Apenas a melhoria das variedades, no entanto, não vai ser a salvação das lavouras, advertem Grolli e Menarim.

A alta rentabilid­ade, a rusticidad­e da planta e a resistênci­a a doenças devem ser acompanhad­as de um bom manejo do produtor. Rotação de cultura e cuidados com o solo são básicos para o bom desenvolvi­mento das plantas.

O produtor precisa perder a mania de só olhar para o retrovisor, diz Menarim. Só planta o que deu certo no ano anterior e descarta variedades que, às vezes afetadas pelo clima de um ano, dariam certo em períodos seguintes.

Menarim diz que o produtor tem de fazer testes com todas as variedades e ver as que dão o melhor resultado.

A troca de informaçõe­s com os vizinhos, que têm o mesmo solo e o mesmo clima, também é vital, acrescenta.

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Mauro Zafalon - 20.jan.16/Folhapress Plantação de soja no Paraná

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