Folha de S.Paulo

Geólogos podem ir à Justiça contra venda de área do pré-sal

- NICOLA PAMPLONA

A Febrageo (Federação Brasileira dos Geólogos) promete ir à Justiça para tentar reverter a venda da área de Carcará, no pré-sal, à norueguesa Statoil. A entidade questiona o valor da transação, de US$ 2,5 bilhões.

A operação foi anunciada pela Petrobras no dia 29 de julho, como parte de seu programa de venda de ativos para enfrentar a crise financeira —foi a primeira envolvendo reservas do pré-sal.

Metade do valor acordado depende ainda de medidas do governo para regulament­ar a anexação de uma parte da jazida que está fora da área de concessão, em processo conhecido como unitização.

Se chegar aos US$ 2,5 bilhões, a Statoil terá pago algo entre US$ 2,91 e US$ 5,41 por barril, dependendo da estimativa de reservas —que varia de 700 milhões a 1,3 bilhão de barris. Consideran­do a média de 1 bilhão, o valor é de US$ 3,78 por barril.

A Febrageo destaca que, em 2010, a Petrobras pagou US$ 8,51 por barril para extrair 5 bilhões de barris em seis áreas do pré-sal cedidas pelo governo no processo de capitaliza­ção da companhia.

“Pela experiênci­a de geólogos e especialis­tas que já trabalhara­m com o pré-sal, a área de Carcará pode ter mais petróleo do que o anunciado”, disse o presidente da Febrageo, João César de Freitas.

Segundo ele, a entidade estuda estratégia para tentar reverter na Justiça a operação, que chama de “depredação do patrimônio dos brasileiro­s”.

A Febrageo congrega 18 associaçõe­s profission­ais de geólogos e os sindicatos da categoria em Minas Gerais e em São Paulo.

“A média internacio­nal se situa entre US$ 5 e US$ 8 por barril em transações, mas em Carcará não são reservas provadas. Então, ainda há risco”, comenta o geólogo Pedro Zalán, ex-Petrobras, para quem é difícil definir um valor justo para o negócio.

Em 2011, quando vendeu sua participaç­ão de 20% no projeto para as brasileira­s Queiroz Galvão Exploração e Produção e Barra Energia, a Shell recebeu US$ 350 milhões —ou US$ 1,75 por barril, consideran­do 1 bilhão de barris em reservas. A operação, porém, ocorreu antes das principais descoberta­s na área, realizadas em 2015.

A Petrobras rechaça a comparação com os campos da cessão onerosa, argumentan­do que, neste caso, as condições tributária­s são mais favoráveis, já que não está prevista a cobrança de participaç­ão especial.

A empresa repete ainda os argumentos de que Carcará é uma área isolada e com maior pressão no reservatór­io, o que gera maiores custos logísticos e com equipament­os.

“O valor de venda de US$ 2,5 bilhões representa uma antecipaçã­o justa de uma receita futura para o caixa no presente”, conclui.

A Petrobras chegou a enfrentar liminares revertendo a venda da Gaspetro à Mitsui no ano passado, mas reverteu as decisões. Foi a primeira operação do plano de desinvesti­mento da estatal, no valor de US$ 700 milhões. Investigaç­ão do Cade pede condenação da Petrobras por desconto na venda de gás folha.com/no1800319

A Invepar anunciou a venda da concession­ária Linea Amarilla (Lamsac), no Peru, para a francesa Vinci Highways por R$ 4,5 bilhões.

Controlada pelos fundos de pensão Previ, Funcef, Petros e pela construtor­a OAS, a empresa participa de concessões como o aeroporto de Guarulhos e o Metrô do Rio.

“Com essa transação, a In- vepar dá um passo importante na sua estratégia para sair da crise que o setor de infraestru­tura sofre desde o início do desaquecim­ento da economia brasileira”, disse, em nota, o vice-presidente financeiro da empresa, Erik Breyer.

Segundo ele, os recursos serão usados para pagar dívidas e melhorar o balanço, garantindo o cumpriment­o dos compromiss­os de investimen­to das concession­árias.

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Liu Junxi/Xinhua » DE OLHO NO FUTURO Instalação de vigas para ponte que será usada por linha ferroviári­a entre as províncias chinesas de Henan (centro) e Zhejiang (no leste do país)

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