Cidade de Deus celebra ouro de judoca
Lágrimas e gritos de “é campeão” tomaram a sala do Instituto Reação, na Cidade de Deus, zona oeste do Rio, onde amigos, parentes e colegas de treino da judoca Rafaela Silva, 24, se reuniram para assistir à luta que rendeu a medalha de ouro.
Eles acompanharam a disputa em um telão e ficaram apreensivos durante os combates da semifinal e da final.
A tensão aumentou quando a judoca, criada no instituto comandado pelo também medalhista olímpico de judô Flávio Canto, aplicou um golpe quase perfeito na mongol Sumiya Dorjsuren, sua adversária na final.
“Ippon, ippon, ippon”, gritava a torcida, enquanto o juiz analisava o golpe.
O alívio veio apenas no fim da contagem regressiva que o grupo fez nos últimos nove segundos da disputa.
“Agora é só comemorar. A Rafaela mostrou para todo o mundo que é preciso acreditar nas pessoas. Acreditaram nela e hoje ela é medalha de ouro”, disse a auxiliar de serviços gerais Cristiane Silva, 40, tia da atleta.
“Ela já foi muito humilhada, sofreu com racismo e quis desistir. Mas Deus sabe de onde ela saiu e o que passou para virar uma campeã.”
O ouro da jovem encheu a Cidade de Deus de orgulho. A conquista foi celebrada nas ruas da favela em que cresceu, a poucos quilômetros do Parque Olímpico, onde ela conseguiu seu maior título.
A judoca chegou ao Instituto Reação aos oito anos, como alternativa encontrada pelos pais para tirá-la das brigas de rua. Até hoje ela treina no projeto social.
“É difícil mensurar o que essa conquista significa. Para as outras crianças, será uma inspiração”, disse o auxiliar técnico Daniel Loureiro, 33, que participou da preparação de Rafaela. (ALFREDO MERGULHÃO)