Guru de Rafaela teve de domar a fúria da campeã
A conquista de Rafaela Silva nesta segunda-feira (8) foi a consagração dos treinamentos e aconselhamentos de Geraldo Bernardes, 72, à atleta ao longo de 16 anos.
Ex-judoca e técnico da seleção brasileira em quatro Olimpíadas, Bernardes conheceu Rafaela quando ela tinha apenas oito anos e carregava fama de temperamental na favela da Cidade de Deus, a oito quilômetros do Parque Olímpico da Barra, onde conseguiu sua medalha.
“Desde quando começou comigo, ela tinha essa questão da agressividade. Ela estava em um lugar onde era ‘essa bola é minha, deixa que eu chuto’, ‘a pipa é minha’, ‘eu pulo muro’, ‘dou com gesso na cabeça dos outros’. Era preciso canalizar isso.”
“Falei para ela e para a irmã [a também judoca Rachel] que um dia as colocaria na seleção brasileira. Sabia que tinha um diamante bruto”, disse Bernardes, um dos poucos brasileiros a ostentar uma faixa vermelha no esporte, acima da preta. Ele acompanhou ao vivo a vitória da pupila.
Afastado do cargo de treinador da seleção brasileira em 2000, ele iniciou um pro- jeto social focado no judô chamado Body Planet, próximo à Cidade de Deus, com crianças e adolescentes de escolas públicas da zona oeste do Rio de Janeiro.
Ex-técnico de nomes como Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Henrique Guimarães, Carlos Honorato e Tiago Camilo, ele passou a formar novos atletas do zero. Três anos depois da fundação, os alunos da Body Planet já eram bicampeões cariocas.
“Em 2012 [Londres], ela teve a oportunidade da medalha, mas foi tirada por uma questão de arbitragem. Ela deu o troco depois de ser xingada e avacalhada por muitas pessoas”, disse Bernardes, atualmente coordenador do Instituto Reação, presidido por outro pupilo seu, Flávio Canto, medalhista de bronze em Atenas-2004.
Nos Jogos do Rio, Bernardes assumiu o cargo de treinador de atletas da delegação de refugiados. SELEÇÃO Na seleção brasileira, os técnicos de Rafaela são Rosicléia Campos e Mario Tsutsui.
Do lado de fora do tatame, as reações deles são contrastantes. Rosicléia, 46, é enérgica, pulando e chorando durante todas as lutas. Ex-judoca, ela representou o país em Barcelona-92 e Atlanta-96. Treinadora do Flamengo, está no comando da seleção desde 2005.
Nesta segunda (8), Tsutsui foi quem acompanhou a luta ao lado do tatame. Conhecido pelo temperamento tranquilo, Tsutsui manteve a postura durante as lutas, mas abraçou efusivamente Rafaela após a vitória e se mostrou emocionado com o título.
“Quando ela passou pela romena [Carina Caprioriu], e depois vendo que a mongol [Sumiya Dorjsuren] tinha ganho, a gente ficou confiante. A Rafa foi sem dúvida superior às adversárias, ela ganhou com mérito.”