VOLUNTÁRIOS REVELAM DIFICULDADE PARA AJUDAR TURISTAS E RECLAMAM DE FALTA DE TREINAMENTO
“Pode me ajudar, por favor?”, pergunta um torcedor com pressa no Parque Olímpico da Barra, aflito para assistir a um jogo de handebol.
“Claro, querido. O que você precisa?”, responde uma senhora, vestida com o uniforme de voluntários.
A resposta gentil serve como um drible para o que vem pela frente: desinformação.
A conversa se passa em um dos centros de boas-vindas, uma espécie de balcão de ajuda. A tenda carrega uma mensagem: “Seja bem-vindo. Somos todos informação”.
Quem já passou por ali, porém, sabe que é só um slogan. Não só lá. Em Copacabana e em Deodoro, os problemas são os mesmos.
Ao todo, o Comitê Rio-2016 recrutou 50 mil pessoas para trabalharem durante os Jogos. Elas não ganham salários, mas recebem transporte gratuito e vale-alimentação. Para serem escolhidas, passaram por um processo de inscrição e de preparação.
Foram realizados três treinamentos até o início dos Jogos. Porém, os voluntários reclamam de não terem recebido orientação suficiente e estarem sem coordenação, sem saber a quem se reportar.
No caso dos motoristas dos ônibus que fazem o transporte entre arenas, esses sim remunerados, as perguntas respondidas com “não sei” são ainda mais numerosas.
Nos últimos cinco dias, a Folha acompanhou esse trabalho em diferentes pontos do Rio. Em uma das tentativas, procurou saber onde era a arena de badminton.
“Acho que é em Deodoro. Nunca me perguntaram. Mas olha, não vai pra lá. Se eu estiver errada, você vai ficar brava”, disse uma voluntária.
O complexo de Deodoro fica a quase 30 quilômetros de distância da Barra.
Disse mais: que poderia ver no sistema, mas que ele não estava funcionando.
“Podemos entrar com mochila nas arenas?”, perguntamos. “Fui com minha mochila na abertura e não teve nenhum problema. Imagino que possa aqui também”, diz outra voluntária.
No momento em que o ônibus passava próximo ao terminal Alvorada, na Barra, outro voluntário foi abordado. Dessa vez por uma turista do Espírito Santo: “O senhor sabe dizer se saem ônibus para Botafogo deste terminal?”.
Outra saia justa. O paulista não saiba o que responder. “Qual é esse terminal? Não sei, não sou daqui”, disse ele, já com a face corada.
“Preciso tirar um dia de folga para conhecer a cidade. Estou totalmente perdido.”
Durante a manhã de domingo (7), a avenida Atlântica, em Copacabana, estava fechada ao público por causa de uma prova de ciclismo.
Ansiosa para pisar na areia, uma turista mineira abordou um grupo de voluntários perto do Forte de Copacabana. Queria saber que horas a prova terminava, assim como se o Arpoador ficava muito longe dali.
Luís, voluntário de Guaíba (RS), não tinha informações sobre o cronograma da prova, tampouco onde ficava a praia, um dos principais cartões-postais do Rio.
“Comecei a trabalhar como voluntário ontem [sábado, 6]. Estou começando a me situar”, afirmou.
Ele relatou que abandonou um curso on-line de inglês, oferecido aos voluntários.
“Era muito básico, tipo ‘the book is on the table’. Sei pouco e continuei sem aprender nada.” Voluntários que dominam o idioma costumam ostentar uma identificação.
Maria, outra voluntária que veio do interior do Rio, disse que sua equipe passou por uma “dinâmica de grupo, com o objetivo de animar os voluntários, mas sem lições sobre provas e a cidade”.
A Rio-2016 afirma que faz um trabalho intensivo com voluntários, para que saibam ajudar o público.
As dúvidas e incertezas variam. Mas o argumento de defesa, este é quase sempre o mesmo: “Cheguei hoje”.