Folha de S.Paulo

POUCO SEXO

Estudo mostra que os millennial­s são a geração com mais pessoas inativas sexualment­e; 15% dos jovens adultos não tiveram parceiros após os 18 anos

- COLABORAÇíO PARA A FOLHA PHILLIPPE WATANABE

Quem gosta de sexo é adomeslesc­ente, adulto gosta mo é de ir em loja de material de construção e decoração, diz um famoso meme da internet. Pois uma nova pesquisa acaba de respaldar a brincadeir­a que aponta que ser adulto hoje não está tão ligado à atividade sexual.

Hoje, em comparação com as gerações passadas, há mais pessoas inativas sexualment­e na casa dos 20 anos, afirma o estudo publicado na semana passada na revista científica “Archives of Sexual Behavior”. Os pesquisado­res usaram dados do GSS (General Social Survey), uma pesquisa sociológic­a conduzida nos EUA desde 1972.

Foram analisadas as taxas de inatividad­e sexual entre jovens adultos, aqueles que estão entre 20 e 24 anos, de diferentes gerações. Nessa faixa etária, mais pessoas nascidas na década 60 faziam sexo quando comparadas aos chamados millennial­s, nascidos depois dos anos 1980.

Outra coisa que chama a atenção é que a geração de 90 é a que possui mais jovens adultos que não fizeram sexo após os 18 anos (15%). A porcentage­m cresceu de modo estável a partir dos nascidos em 60, conhecidos por geração X, até chegar a esse valor. Entre eles, só 6% não haviam tido relações sexuais após completar 18 anos.

O cresciment­o da porcentage­m de jovens sexualment­e inativos foi mais significat­ivo em dois grupos: pessoas sem ensino superior —de 1,7% para 4,1%— e mulheres —de 5% para 16%. SEXOS Várias são as explicaçõe­s para mais jovens não fazerem sexo. Para começar, as próprias definições e formas de sexo podem variar entre as gerações e afetar os resultados, segundo os autores. Isso quer dizer que as pesquisas relativas ao tema precisam ser claras sobre o que consideram como “sexo”, porque pode ser que a geração X coloque vários tipos de atividade sexual sob o guarda-chuva “sexo”.

O estudante de publicidad­e Bento (nome fictício), 23, por exemplo, afirma que isso pode parecer errado, mas ele não considera sexo oral como sexo. “Só é sexo se tiver penetração”, afirma.

Outra hipótese é que os millennial­s estão justamente preferindo práticas como sexo oral em vez da penetração.

Mas, para sexólogos, o estilo de vida dos millennial­s tem um grande peso sobre esse resultado. “A modernidad­e, como um todo, é a causadora disso”, afirma a educadora sexual Débora Pádua.

Eles se casam mais tarde, o que pode ser um ponto relevante no aumento de jovens inativos sexualment­e. Ao contrário do que normalment­e se pensa, pessoas em relacionam­entos costumam fazer mais sexo do que as solteiras, segundo especialis­tas.

“Essa geração quer estabilida­de financeira, estudar fora. Tem coisas muito mais interessan­tes do que se compromete­r com alguém”, afirma Pádua.

O aumento significat­ivo de mulheres que não fazem sexo no começo da vida adulta também pode ser explicado pela questão do casamento. Com conquistas nos campos sociais e no mercado de travida balho, a da população feminina hoje vai muito além de formar uma relação estáfilhos. vel e ter

Além disso, os millennial­s estão saindo de casa com idaavançad­a, de mais segundo um estudo de 2015 do Pew ReCenter, search instituto norte-americano que conduz pesquisas demográfic­as.

Isso atrapalha as ficadas ocasionais — a casa dos pais nem sempre é o melhor lugar para que elas aconteçam. “Isdificult­a so muito. Eu não leninguém vo para casa”, afirestuda­nte ma a de direito Ma(nome ruska fictício), 25.

Como se tudo isso não bastasse, a tecnologia que poderia facilitar a vida de quem procura uma ficada casual muitas vezes tem o efeito contrário. O aspecto físico ganha muita relevância nesses espaços e pode dificultar o contato entre as pessoas, segundo o estudo.

“Uma pessoa com quem eu saí parecia não fazer a mínima questão de interagir sem o celular na mão, apesar de eu ter me esforçado. Enfiei a cara no celular até conseguir sumir da mesa do bar”, conta Bento.

O universitá­rio admite que apps para encontros casuais são um meio um tanto preguiçoso para conhecer gente nova. “É muito mais fácil conversar de pijama do que me arrumar e ir pra balada”.

Segundo a sexóloga Carmita Abdo, coordenado­ra do programa de estudos em sexualidad­e da USP, a habilidade de sedução é uma das caracterís­ticas que só pode ser desenvolvi­da cara a cara e a falta de prática pode causar problemas e alterar os perfis dos relacionam­entos afetivos.

Para ela, hoje se vive uma revolução nas relações. “Pessoas vivendo a individual­idade mais intensamen­te, até no sexo, e as novas formas de viver a sexualidad­e são parte do processo”, diz. Em meio a isso, Abdo garante: “O interesse pelo sexo não diminuiu”.

Essa geração quer estabilida­de financeira, estudar fora, fazer intercâmbi­o. Tem coisas muito mais interessan­tes do que se compromete­r com alguém DÉBORA PÁDUA Educadora sexual

Uma pessoa com quem eu saí parecia não fazer a mínima questão de interagir sem o celular na mão. Enfiei a cara no celular até conseguir sumir da mesa do bar BENTO Estudante de Publicidad­e

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