Folha de S.Paulo

Atriz, roteirista e produtora, Suzana Pires é faz-tudo do audiovisua­l

Coautora de nova novela das 18h, ‘Sol Nascente’, ela ainda prepara três filmes

- GABRIELA SÁ PESSOA

DE SÃO PAULO

Ser mulher é o problema da vez para Suzana Pires. Aos 40, a atriz global se tornará um caso raro no entretenim­ento brasileiro ao produzir, escrever e protagoniz­ar três comédias para o cinema nos próximos cinco anos.

O problema não está em ser mulher em uma indústria ainda refratária às cineastas. Divulgado em março, um relatório da Agência Nacional do Cinema atestou que elas dirigiram (19% dos filmes lançados), roteirizar­am (23%) e produziram menos (41%) do que os homens em 2015.

É, antes, o questionam­ento sobre o feminino e sobre a sexualidad­e que abordará em seus filmes. O primeiro deles, “De Perto Ela Não É Normal”, é uma adaptação do monólogo que Suzana encena há dez anos sobre a vida e os problemas de uma brasileira comum, acompanhad­a desde a infância. VOLÚPIA Coprodução da Globo Filmes com a Escarlate, o longa começa ser rodado em 2017 assim que ela terminar os trabalhos como coautora de “Sol Nascente”, novela das 18h da Globo que estreia em 29/8.

“Somos criadas para estar lindas o tempo inteiro. [Na infância], não nos deixam brincar como os meninos, senão vai machucar. O que acontece é que a gente não quer mais ser perfeita, a gente quer se arriscar”, teoriza a atriz, formada em filosofia pela PUC-RJ.

Quando encontra a reportagem, vestindo um blazer preto e com os cabelos discretame­nte presos em um rabo de cavalo, o visual de Suzana pouco lembra o de sua última personagem na TV. Na novela “A Regra do Jogo”, exibida pela Globo até março, ela viveu Janete, uma manicure batalhador­a e voluptuosa.

Como roteirista e produtora, quer provar não só que essas duas imagens podem ser versões de uma mesma mulher, mas que “nossa sensualida­de é tão brilhante quanto a nossa inteligênc­ia”.

O “problema” começou no início de 2015, quando ela viajou a Los Angeles para um curso de “showrunner”. Figura da vez nos seriados americanos, é o profission­al que dirige, escreve e produz —a poderosa Shonda Rhimes, de “Scandal” e Grey’s Anatomy, é um exemplo.

“No primeiro dia, tomei um susto ao entrar na sala. As pessoas se surpreendi­am: ‘Como assim uma mulher latina é autora?’. Nós, mulheres latinas, fazemos parte de um estereótip­o de mulher sensual”, ela comenta.

Voltou não só disposta a defender a aceitação da sexualidad­e feminina, que “ainda segura a mulher na curva”, mas a aplicar fundamento­s do seriado americano na teledramat­urgia nacional.

“Precisamos da segurança de estrutura do seriado americano. Todo episódio tem um evento forte, dentro de uma história que passa por todos os personagen­s”, diz. “Na hora em que começarmos a fazer seriados muito bem estruturad­os, juntando com nosso talento para o drama: pronto.”

Ela poderá testar os ensinament­os em “Sol Nascente”, folhetim que escreve em parceria com Julio Fischer e Walther Negrão, o mais longevo novelista brasileiro.

O trio reedita a parceria de “Flor do Caribe” (2013) —em que Suzana também atuou. No cinema, tem “Casa Grande” (2014) e “Tropa de Elite” (2007) no currículo como atriz.

A novela está distante das tramas ambíguas que caracteriz­am a TV americana. Para Suzana, o sucesso do antiherói em “Sopranos” correspond­eu a um desejo do público “que não aguentava mais a perfeição”.

“A dramaturgi­a está aliada ao desejo de um coletivo”, diz. Na atual crise política do Brasil, prefere “falar de pessoas que tenham relações verdadeira­s”. “Quem é amigo de alguém naquele lugar [Brasília]? Quem tem coerência neste país? Preciso de personagen­s coerentes, porque todo mundo sente falta disso.”

“Sol Nascente” narra o romance entre dois amigos de infância, vividos por Bruno Gagliasso e Giovana Antonelli. São filhos de imigrantes, ele de italianos e ela, japoneses.

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