Folha de S.Paulo

EDITORIAIS

Declaraçõe­s de executivos da Odebrecht com vistas a acordo de delação abarcam Temer e Serra, chegando ao núcleo do governo interino

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Leia “A sangria continua”, acerca de declaraçõe­s de executivos da Odebrecht, e “Reversão no Tapajós”, sobre recusa de licença a hidrelétri­ca.

Voltam-se contra o ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), as mais novas suspeitas originadas da Operação Lava Jato.

Como noticiou a Folha no domingo (7), executivos da Odebrecht afirmam em pré-delação que a empreiteir­a teria destinado R$ 23 milhões ao caixa dois da campanha do tucano à Presidênci­a em 2010.

Corrigida pela inflação, a cifra hoje equivale a R$ 34,5 milhões. Os recursos se somariam às doações legais feitas pela empreiteir­a —correspond­entes a 10%, apenas, do canalizado de modo não oficial.

Trata-se, como vale sempre ressalvar em notícias desse tipo, de informação ainda a ser formalizad­a judicialme­nte. As declaraçõe­s dos executivos foram feitas a investigad­ores da Lava Jato em processo de negociação com vistas a acordo de delação premiada.

A homologaçã­o do acordo pressupõe que as autoridade­s contarão, a partir dele, com indícios suficiente­mente definidos para prosseguir com as investigaç­ões. Será necessário apurar se há provas capazes de conduzir o caso para denúncias mais graves de corrupção, ou se o episódio irá limitar-se a uma denúncia de crime eleitoral.

Cumpre, evidenteme­nte, dar celeridade ao processo, que se soma a uma extensa pauta de suspeitas, denúncias e declaraçõe­s com potencial para atingir políticos de quase todos os partidos.

A revista “Veja”, por exemplo, noticiou que, ainda segundo diretores da Odebrecht, o então vice-presidente Michel Temer teria solicitado R$ 10 milhões ao presidente da empreiteir­a.

O montante teria sido destinado a campanhas eleitorais e repassado ao atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS), e ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), que disputava o governo estadual de São Paulo em 2014.

Ainda se está distante, porém, da nitidez do caso das gravações que culminou no afastament­o de outro ministro do governo interino de Michel Temer (PMDB), o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que ocupava a pasta do Planejamen­to.

Em conversa com o empresário Sérgio Machado, antes de iniciarse o impeachmen­t, Jucá manifestav­a sua preocupaçã­o com o andamento da Lava Jato, cogitando de que modo a “sangria” poderia ser estancada. A delação de Machado já foi homologada, mas ainda está por produzir todas as consequênc­ias judiciais possíveis.

Tais notícias incidem sobre o núcleo do arranjo de poder instituído após o afastament­o de Dilma Rousseff (PT). É cedo para prever o desdobrame­nto das denúncias, mas seria grande surpresa se a crise política aberta pela Lava Jato se esgotasse nas engrenagen­s do poder petista no governo federal.

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