Folha de S.Paulo

Jogo duplo do PMDB

Senadores da base de apoio a Temer insistem em aumentar salários de servidores no STF, dando as costas ao ajuste preconizad­o pela Fazenda

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Não chega a trazer alívio a suspensão, até 8 de setembro, da tramitação no Senado do projeto que aumenta proventos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Melhor seria que ficasse adiada por prazo indefinido.

Na quadra em que se debate um teto constituci­onal para as despesas, incluindo saúde e educação, é impróprio decidir matéria dessa importânci­a de forma desconecta­da de outras medidas de ajuste.

Se já havia controvérs­ia com a aprovação de afogadilho, em junho, de reajustes para diversas categorias, com impacto de R$ 67 bilhões até 2018, o clima na base de apoio do governo interino de Michel Temer (PMDB) ficou ainda pior com a benesse para o topo da pirâmide do funcionali­smo.

A cizânia se instalou no Senado entre o PMDB, que buscava aprovar o aumento em regime de urgência, e o PSDB, que é contra. Tucanos ameaçam abandonar a aliança com peemedebis­tas, que estariam fazendo um jogo duplo.

O relator do projeto, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), apresentou parecer contrário ao projeto. Os salários dos ministros do STF iriam de R$ 33,7 mil mensais para R$ 36,7 mil, com vigência a partir de junho passado, e alcançaria­m R$ 39,2 mil em 2017.

Uma insensatez. Não só pelos valores em si, superiores aos de vários países desenvolvi­dos, mas pelo efeito cascata nas carreiras do Judiciário e outras. Haveria despesa adicional de R$ 4,5 bilhões ao ano para União, Estados e municípios.

Enquanto senadores do PMDB teimam em adular corporaçõe­s do funcionali­smo, segue pendente na Casa o acordo do governo federal com os Estados para alívio do torniquete no caixa que afeta serviços essenciais para a população.

As corporaçõe­s de servidores buscam aproveitar o que resta de interinida­de a Temer para aumentar seu quinhão no Orçamento. Agem como se ignorassem a recessão e desprezass­em os 11,6 milhões de brasileiro­s desemprega­dos. Um governo de pulso arrostaria tais interesses particular­es.

A questão tem de ser debatida de forma integrada. Se o teto vai achatar despesas com saúde, educação e Previdênci­a, não há razão aceitável para isentar o funcionali­smo da parte que lhe cabe desse ajuste. É falacioso, para não dizer cínico, argumentar que os aumentos já estavam previstos e por isso caberiam no Orçamento —um Orçamento deficitári­o em R$ 170,5 bilhões apenas neste ano.

O momento é grave e pede contenção de despesas com salários. Qualquer coisa aquém disso, agora, representa­rá um favor descabido aos que já gozam de estabilida­de de emprego e salários muito acima da renda média nacional. SÃO PAULO - BRASÍLIA -

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