Folha de S.Paulo

Adeus, Rio-16, olá, eleições

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Nesta semana, encerramos um ciclo inesperada­mente animador da vida nacional, com a realização bem-sucedida dos Jogos Olímpicos e uma atuação bastante razoável dos nossos atletas. Precisávam­os disso. Desde os debates que marcaram o início do processo do impeachmen­t e a disfuncion­al polarizaçã­o a ele associado, estávamos de mau humor e com certa paralisia institucio­nal. Tudo mais havia saído de pauta, como se a questão central do país fosse a corrupção e, sendo isso muito difícil de eliminar, estaríamos destinados ao fracasso.

Passada a constataçã­o de que somos capazes de organizar os Jogos e mesmo deixar um legado para a cidade do Rio de Janeiro, na forma de museus, revitaliza­ção do centro e complexos viários, parece ter chegado o momento de recolocar, agora em termos mais animados, outros temas na agenda.

E é neste momento que a convergênc­ia de dois eventos entra em cena: as discussões sobre um eventual impeachmen­t e a campanha eleitoral. Nos dois, as discussões tendem a focar questões de curto prazo e avaliações políticas rasas. Não irão certamente focar o projeto de país que se quer construir.

Mas este é o grande tema que deveria nos mobilizar daqui para a frente, visto que falhamos em algumas coisas importante­s, como assegurar uma educação de qualidade para crianças e jovens, ter uma produtivid­ade do trabalho à altura do estágio de desenvolvi­mento do país, oferecer uma adequada atenção à saúde ou contar com uma infraestru­tura que não engargale o cresciment­o ou prejudique o meio ambiente. Mais do que isso, garantir que avanços (e houve avanços, sem dúvida, nos últimos 20 anos) nessa direção se mantenham mesmo com mudanças de governos.

Se o debate eleitoral que se inicia e os programas dos próximos prefeitos contemplar­em algumas dessas questões, sairemos ganhando. Tenho minhas dúvidas, mas vale a pena esperar alguma ênfase nas questões de fundo do cenário nacional.

Em educação, de acordo com o relatório lançado segundafei­ra (22) pela Comissão de Educação do Diálogo Interameri­cano, o Brasil ainda tem muito o que fazer. Apesar de ter sido o país que mais avançou em matemática no Pisa, exame internacio­nal de qualidade da educação, ainda se posiciona em 58º lugar entre as 65 economias que participar­am da prova e levaria, no andar da carruagem, 27 anos para alcançar a média dos países da OCDE.

São esses temas que vou abordar na minha coluna semanal aqui na Folha. Que desafios temos que enfrentar e como construir uma agenda de longo prazo que coloque o Brasil num outro patamar, tanto em educação quanto em outras políticas públicas? Aceito sugestões.

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