Bate-boca e discussões sobre testemunhas marcam primeiro dia
DE BRASÍLIA
O primeiro dia de julgamento da presidente afastada, Dilma Rousseff, durou mais de 14 horas e foi marcado por bate-boca entre petistas e senadores pró-impeachment.
Uma polêmica envolveu decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, de rebaixar à categoria de “informante” o procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Júlio Marcelo, primeiro a falar.
Personagem que defendeu as chamadas pedaladas fiscais, Marcelo foi arrolado como “testemunha” da acusação. A defesa convenceu Lewandowski de que ele não poderia ter tal posição por ter compartilhado em rede social convocação para protesto contra a política fiscal petista.
Com o “rebaixamento”, o PT pretende lançar mão da teoria do “fruto podre” na Justiça, caso recorra do provável impeachment, segundo a qual um ato pode contaminar o processo.
Ronaldo Caiado (DEM-GO) deu o troco e questionou o ministro sobre a economista Ester Dweck, arrolada como testemunha de Dilma, que agora trabalha no Senado a pedido de Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Em sua fala, o procurador afirmou que “o dolo grita nos autos” e que as pedaladas não foram feitas sem comando. “E quem detém comando é a presidente da República.”
Logo pela manhã, um bate-boca levou à suspensão, por alguns minutos, da sessão. Hoffmann questionou a “moral” do Senado para julgar Dilma. “Eu exijo respeito ao decoro. Eu não sou assaltante de aposentado”, bradou Caiado. O marido de Gleisi, o ex-ministro Paulo Bernardo, chegou a ser preso na Lava Jato em investigação sobre suposto desvio de crédito consignado de servidores.
Lindbegh Farias (PT-RJ) gritou com Caiado: “Canalha”. O senador do DEM rebateu: “Abaixa esse dedo que você só tem coragem aqui, na frente de uma câmera. Vai fazer seu antidopping”.
À noite, Lewandowski demonstrou impaciência com os embates: “Os debates já desandaram e não vou permitir que desandem mais ainda”.
Também nesta quinta foi ouvida a segunda e última testemunha de acusação, o auditor do TCU Antônio Carlos Costa D’Ávila. Nesta sexta passam a ser ouvidas as seis testemunhas de defesa de Dilma. A votação do impeachment deve ser concluída até o dia 31.
(MARIANA HAUBERT, DÉBORA ÁLVARES, DANIELA LIMA, RUBENS VALENTE) Protagonistas de barracos no plenário, Lindbergh Farias (PT-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) viraram alvo de piada de colegas e ouviram conselhos para se inscreverem em aulas de lutas marciais. Confiante de que a primeira etapa do julgamento acaba até sábado (27), Paulo Rocha (PT) estava convocando senadores para “tomar cachaça” depois da sessão para desanuviar. Lula foi convidado.