Folha de S.Paulo

Para analistas, alívio é necessário, mas linha foge ao padrão do banco

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DE SÃO PAULO

O programa lançado pelo BNDES para ajudar as empresas em dificuldad­es financeira­s divide analistas. Se por um lado desvia o banco de seu objetivo principal, que é financiar investimen­tos novos, por outro poderá contribuir para viabilizar a venda de empresas em má situação.

Segundo o economista José Roberto Afonso, do Ibre/ FGV, o elevado endividame­nto das empresas, que acabaram asfixiadas pelo aumento dos juros e alta do dólar, levou o banco a agir.

“Pelo visto, o mercado não deu conta. E esperava-se que estrangeir­os entrassem e comprassem as empresas brasileira­s em má situação financeira, mas também não devem estar dando conta.”

Ele critica, porém, que seja o BNDES o instrument­o escolhido pelo governo para mitigar o problema.

“Foge ao padrão do BNDES, que é o fomento para projetos de novos investimen­tos”, diz ele. “O BNDES é usado para fazer uma função que é própria do governo ou do Banco Central.”

Renato Soriano, sócio da Rosenberg Partners, concorda que esse papel deveria ter sido cumprido pelo mercado, mas ressalva que não houve crédito disponível para isso.

A advogada Marina Schneider, sócia do escritório Mattos Filho, diz que há interesse de empresas em adquirir outras em dificuldad­e, mas o volume de negócios que se concretiza­m não correspond­e.

“É uma iniciativa que faz sentido no momento de crise: em vez de criar projetos novos, ele financia os já existentes, que podem ser bons mas estão precisando de ajuda”, afirma Soriano. “Não sendo a taxas subsidiada­s, mas sim a custo de mercado, não tem impacto fiscal.” FALTA DE OPÇÃO Sérgio Lazzarini, professor do Insper e estudioso das relações entre governos e investidor­es privados, diz ter estranhado o anúncio.

“Trata-se de negociação privada. Não vejo por que um banco de desenvolvi­mento entraria no processo.”

José Roberto Afonso observa que, nos EUA, durante a crise global de 2009, quem prestou esse tipo de socorro foi o próprio governo.

“O governo dos EUA comprou participaç­ões acionárias diretas até em montadoras”, diz. Ele lembra que o BNDES já fez isso no passado.

“Os nomes mudam, mas a essência é a mesma. Em outros tempos já chamaram esses empréstimo­s de operação hospital e, recentemen­te, de reestrutur­ação financeira.” (JOANA CUNHA E MARIANA CARNEIRO)

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