Folha de S.Paulo

Falhas graves mais que dobram no metrô

- RODRIGO RUSSO

DE SÃO PAULO

O número de falhas graves no metrô de São Paulo mais que dobrou em cinco anos, e a tendência de alta continua em 2016, segundo dados obtidos pela Folha por meio de Lei de Acesso à Informação.

Em 2010, houve 30 ocorrência­s notáveis —nomenclatu­ra técnica para panes que resultam em paralisaçã­o das linhas, ainda que parcial. Em 2015, 76, aumento de 153%. No primeiro semestre deste ano, já foram 44, praticamen­te uma a cada quatro dias.

Os números obtidos se referem às quatro linhas operadas pelo próprio Metrô (1-azul, 2-verde, 3-vermelha e 5-lilás), a cargo do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

Essas falhas graves podem ocorrer tanto nos trens como em equipament­os da rede.

Na prática, afetam a vida não só de quem fica preso nos vagões por pelo menos cinco minutos —tempo para carac- problemas ocorreram no 1ºsem.2016 2010 2011 2012 terizar uma ocorrência notável— como dos demais usuários, já que há um efeito cascata nas linhas do metrô.

Uma falha aumenta os intervalos de viagem, a lotação dos trens e as filas para embarque. Em algumas dessas panes, os trens precisam ser encaminhad­os para manutenção corretiva, retirando composiçõe­s de circulação. 2013 2014 2015

Consideran­do apenas os problemas registrado­s nos trens, a quantidade passou de 22 para 42 nos últimos cinco anos, alta de 91%.

O Tribunal de Contas do Estado concluiu, com base em dados do Metrô, que cerca de 92 mil viagens de trens deixaram de ser feitas em 2015 em razão de falhas ou problemas de manutenção.

Nos últimos cinco anos, não houve aumento significat­ivo da frota, que passou de 150 para 154 trens, tampouco no volume de quilômetro­s percorrido­s pelas composiçõe­s, que subiu de 18,2 milhões para 18,9 milhões.

Além disso, não houve cresciment­o expressivo nessa malha metroviári­a gerenciada pelo Estado, que de 65,3 km chegou a 68,5 km.

O volume de passageiro­s transporta­dos aumentou 45% no período, mas ainda assim em ritmo mais modesto que as panes graves.

A gestão Alckmin afirma que a alta das panes se deve à adaptação de trens modernizad­os recentemen­te.

Funcionári­os, porém, citam a redução de investimen­tos na operação, manutenção e modernizaç­ão de linhas, trens e estações e, como revelou a Folha, a falta de peças e a terceiriza­ção no serviço em trens novos e reformados.

Em março, a reportagem mostrou a situação de cinco trens retirados de operação para servir de estoque de peças de reposição para outros. O Metrô tem enfrentado falta de recursos —em 2015, a gestão Alckmin deu calote de R$ 66 milhões na empresa, referente à verba de gratuidade­s.

O consultor Peter Alouche, especialis­ta em trilhos e que trabalhou décadas no Metrô, ressalta que a rede é pequena para “um dos mais elevados números de passageiro­s por km de linha no mundo”.

Para ele, a alta das falhas pode estar ligada à interferên­cia da implantaçã­o nos últimos anos do CTBC —sistema de sinalizaçã­o de trens mais moderno, que promete reduzir os intervalos entre trens.

“Enquanto não estiver em operação adequada, isso interfere no sistema convencion­al e causa incidentes”, afirma. O sistema só foi implantado integralme­nte na linha 2. O cronograma de entrega hoje se estende até 2021.

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