Folha de S.Paulo

ANÁLISE Fabiana Murer, que se aposenta, saltou para a história

- MARCEL MERGUIZO

Um salto no escuro. Foi o que Fabiana Murer fez aos 16 anos. Sem ter colchão para amparar sua queda e com uma vara de bambu, iniciou em Campinas o voo que a levaria ao topo do mundo.

A menina magra e esguia que praticava sem brilho ginástica artística elevou o salto com vara do país a um patamar inimagináv­el quando entrou no atletismo em 1997.

Na época, nem mesmo nos Jogos Pan-Americanos ou Olímpicos a prova feminina estava. Em 1999, foi a caçula da primeira turma no Pan. Em Sydney-2000, as mulheres estrearam na prova que já era disputada pelos homens desde Atenas-1896. Ali começou a sonhar com os Jogos.

Sonho que viraria pesadelo em três atos: o sumiço das varas em Pequim-2008, o vento de Londres-2012 e a hérnia de disco na Rio-2016.

Nesta quinta (25), ao anunciar que nunca mais deve saltar, Fabiana não caiu. Aos 35 anos, serena, disse que vai continuar no atletismo, como dirigente no clube que a projetou. E lembrou dos dois ouros mundiais (em pista aberta e coberta), dos dois títulos na Liga Diamante, das três medalhas em Pans e do recorde sul-americano (4,87 m), que quebrou mais uma vez antes dos Jogos do Rio.

Única brasileira campeã mundial no atletismo, ela compartilh­ou sua despedida com a homenagem a Thiago Braz, campeão e recordista olímpico do salto com vara.

Já seria inevitável dizer que ela o influencio­u, mas revelaram que a ligação vai além. Atleta de 22 anos, há seis ele precisou da ajuda financeira de Fabiana em seus três primeiros meses em São Paulo.

Braz foi lapidado por Elson Miranda, descobrido­r e marido de Fabiana. Outra história impossível de dissociar.

O técnico estudou, viajou e se tornou referência na modalidade para treinar e transforma­r Fabiana Murer em uma das maiores de todos os tempos —ela tem a sexta melhor marca da história.

Se falhou por três vezes quando não podia, ela completou seu salto como atleta com perfeição. Correu para uma prova desconheci­da, se apoiou em um técnico, voou graças ao talento, passou pelo sarrafo que separa vencedores e perdedores e, enfim, vai poder descansar no colchão de glórias que somente aqueles que transforma­m seu esporte merecem repousar.

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Marcel Merguizo/Folhapress Fabiana Murer, 35, bi mundial, se aposenta do salto com vara

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