Folha de S.Paulo

Rio tem apenas ilhas de acessibili­dade

Professor cego e fotógrafo cadeirante comentam condições da cidade, que recebe evento a partir do dia 7

- GABRIEL VASCONCELO­S LUISA BUSTAMANTE DO RIO

PARAOLIMPÍ­ADA FOLHA,

Prestes a sediar a os Jogos Paraolímpi­cos, a partir do dia 7 de setembro, o Rio ainda está longe de se tornar uma cidade acessível para pessoas com deficiênci­a.

Áreas turísticas e transporte­s como BRT, VLT e metrô se tornaram mais acessíveis, mas transitar de um ponto a outro por meio de um sistema de ônibus convencion­al ainda é um grande desafio.

Coordenado­ra do núcleo Pró-Acesso da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que estuda o tema, a arquiteta Regina Cohen considera que o município perdeu a oportunida­de, gerada pelos Jogos, de se tornar plenamente acessível.

“Melhorias foram realizadas em pontos turísticos, transporte­s e instalaçõe­s esportivas, mas precisavam ser feitas de forma mais ampla em toda a cidade”, diz.

A Folha acompanhou o cego Vítor Marques, 70, e o cadeirante Ubirajara Carvalho, 46, em passeios pelo Rio, para testar a acessibili­dade de pontos como o Boulevard Olímpico e Copacabana.

Professor do Instituto Benjamin Constant, dedicado aos deficiente­s visuais, Vítor tem dificuldad­es para sair da Lapa, onde reside, em direção à Cinelândia, também na região central, para pegar o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).

Ele é obrigado a desviar de buracos em calçadas com pouca conservaçã­o e sofre com a ausência de semáforos sonoros no trajeto —há apenas sete deles na cidade.

O acesso ao novo bonde elétrico que leva ao Boulevard Olímpico, porém, foi elogiado pela plataforma no mesmo nível da composição.

O boulevard, no entanto, peca pela ausência de piso tátil de alerta na beira do cais. A intervençã­o só está no entorno dos trilhos do VLT.

Os problemas do cadeirante Ubirajara Carvalho, 46, também começam na porta de casa. Fotógrafo e morador do Complexo da Maré, ele precisaria pegar um ônibus em direção a Copacabana na avenida Brasil, que margeia o conjunto de favelas.

Mas os os ônibus convencion­ais, equipados com elevadores para cadeirante­s, não são solução. “Mesmo com a obrigatori­edade do elevador, muitos estão quebrados ou os motoristas não sabem operar direito”, diz.

Com isso, Ubirajara anda de cadeira de rodas por cerca de 25 minutos até a estação de BRT mais próxima. No percurso, uma das maiores dificuldad­es é a inclinação das rampas nas passarelas.

“Eu chamo essa aqui de Kilimanjar­o, só consigo subir com a ajuda de alguém”, diz, apontando para a passarela da estação BRT Maré.

Responsáve­l pelos ônibus do Rio, a Fetranspor diz que 91% da frota é equipada com elevadores e que, em caso de quebra, os veículos são recolhidos para reparo. Para experts, a melhor saída é o ônibus com chassi rebaixado.

Ubirajara diz que a acessibili­dade do sistema BRT e do metrô tornam a viagem mais confortáve­l, mas o tempo de trajeto aumenta em ao menos 90 minutos. Nesses sistemas, a plataforma no nível das composiçõe­s e a ajuda de funcionári­os treinados foram motivo de elogios dele.

“As pessoas não entendem que mobilidade não é só um problema de transporte. Envolve oportunida­des como trabalho, estudo e diversão.”

Em Copacabana, o passeio foi aprovado. As rampas e o calçamento liso ajudaram.

O bairro está entre os locais atendidos por um projeto de R$ 2 milhões da prefeitura para adaptar algumas rotas turísticas da cidade.

Questionad­a pela reportagem, a prefeitura do Rio afirma que, ao longo de seis anos, construiu 8.245 rampas de acessibili­dade no programa Bairro Maravilha.

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Bira Carvalho, 46, que é cadeirante, fez o trajeto de sua casa até o bairro de Copacabana utilizando transporte público

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