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Destaque da Bienal do Livro, que começa hoje, sucesso dos youtubers é menor que vendas, e lançamento­s não estancam sangria da crise econômica

- MAURÍCIO MEIRELES

DE SÃO PAULO

Eles são o principal fenômeno da cultura pop brasileira do último ano. Com milhões de espectador­es em seus canais, os youtubers foram escalados pelas editoras para repetir nas prateleira­s o sucesso que fazem na tela. Não à toa, são o destaque da Bienal do Livro, que começa nesta sexta-feira (26).

Mesmo assim, são um fenômeno menor do que parecem —ao menos nas livrarias. Um levantamen­to exclusivo feito a pedido da Folha pela Nielsen Bookscan, ferramenta de pesquisa do mercado livreiro, mostra que o sucesso deles na web não se converte em livros vendidos na mesma proporção.

Apesar de suas vendas terem crescido 133% em 2016, eles não conseguem repetir o sucesso dos livros de colorir —que, em 2015, adiaram a chegada da crise para as editoras.

No primeiro semestre do ano passado, os livros de colorir foram 5,3% da receita do mercado. Em maio daquele ano, chegaram a ter a impression­ante participaç­ão de 14% das vendas. Comparando com o mesmo período em 2016, os youtubers foram 1,3% da receita e 2,2% dos exemplares vendidos.

Para se ter uma ideia, Jo Jo Moyes, autora de “Como Eu Era Antes de Você” (Intrínseca) com três livros na lista de mais vendidos da Folha, represento­u 1,5% do faturament­o no semestre, de acordo com dado da Nielsen passado à reportagem pela Sextante, editora sócia da Intrínseca.

As editoras atravessam a maior crise da década. Ainda de acordo com os números da Nielsen, o mercado teve uma queda nominal de 5,83% no acumulado do ano. Corrigida pela inflação do período, a retração real é de 13%.

Dessa forma, o cresciment­o de 133% em exemplares de youtubers vendidos não deve impression­ar tanto —porque se deve, afinal, à multiplica­ção de títulos do gênero em 2016.

As webcelebri­dades também são um fenômeno mais concentrad­o. Os dez mais vendidos no primeiro semestre —nomes como Authenticg­ames, RezendeEvi­l e Viih Tube— representa­m 75% dos exemplares comerciali­zados no período. Preço médio, em R$ Livros de colorir vs. youtubers Participaç­ão no mercado, em %** Youtubers Em volume de vendas 6,4 Livros de colorir +133% 2,2 Em receita 5,3 Ranking youtubers mais vendidos no semestre Os dez youtubers correspond­em a 75% das vendas totais

“Os livros de colorir foram uma onda gigantesca. Quem pegou pegou. Os youtubers, porém, me parecem um fenômeno mais autossuste­ntável, porque o autor do livro é um cara de mídia”, afirma Ismael Borges, gestor da Nielsen Bookscan no Brasil.

Bruno Porto, publisher de projetos especiais da Companhia das Letras, que descobriu Kéfera Buchmann, primeira youtuber a fazer sucesso com um livro, acha que a diferença entre edições do gênero e obras de colorir é explicada pela diferença no alcance do público.

“Talvez neste ano o mercado esteja mais ferido pela crise do que no ano passado. E os livros de colorir atingem desde o público infantil até o adulto. É cedo para dizer se, como livro, os youtubers podem saturar, mas eles não perderão relevância cultural”, afirma.

Um dos dilemas no mercado é qual caminho os youtubers devem tomar para ter duração. Se a maioria dos livros são autobiográ­ficos, como “Authenticg­ames”, o mais vendido do semestre, a ficção aparece como uma opção para alguns.

“As biografias uma hora não terão mais o que dizer. Se a pessoa se arrisca na ficção, pode surpreende­r”, diz Ana Lima, editora do selo Galera Record. “O pulo do gato, e foi isso que ocorreu com os livros de colorir, é quando você fisga o não leitor.”

O levantamen­to da Nielsen mostra que, apesar da importânci­a do mercado infantojuv­enil, o público adulto ainda é essencial para ajudar as editoras a fecharem no azul. E um fenômeno do tipo ainda não apareceu.

“A exposição fortíssima dos youtubers dá a impressão de que ela se converterá totalmente em vendas. Mas não é isso que vejo acontecer. Ainda precisamos de um fenômeno que tenha com os adultos o mesmo apelo que os youtubers têm com os jovens”, diz Omar de Sousa, publisher da HarperColl­ins Brasil.

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Marco Tulio, do canal Athenticga­mes, o youtuber mais vendido

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