Folha de S.Paulo

Primavera no Municipal

Entrevista do maestro John Neschling à Folha foi ritual patético, para suscitar compaixão e absolvição num país de sentimenta­is

- CARLOS AUGUSTO CALIL

O maestro John Neschling imolouse publicamen­te em entrevista publicada na coluna de Mônica Bergamo, nesta Folha, no dia 18. Foi um ritual patético, para suscitar compaixão e absolvição num país de sentimenta­is. Só faltaram as lágrimas, tão abundantes ultimament­e.

Como estamos diante de um mitômano, convém ficar alerta. Qual a “narrativa” que ele quer passar? A de que foi vítima de políticos, de traidores, de medíocres, do país.

Analisando os fatos nas entrelinha­s, fica claro que o maestro não foi demitido do Theatro Municipal de São Paulo pelo prefeito Fernando Haddad, com quem mantinha relações de familiarid­ade.

Foi afastado pelos conselheir­os da organizaçã­o social Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), gestora do Municipal, que se sentiram ameaçados com os desvios de comportame­nto do maestro fanfarrão. Numa organizaçã­o social, os conselheir­os são solidários nos desmandos da direção e pagam por isso —seus patrimônio­s pessoais avalizam os desvios financeiro­s.

O desfecho recente provocou uma onda de júbilo nos músicos, cantores e bailarinos, após anos de opressão, desprezo, gritos e império do medo. A primavera chegou antecipada ao Municipal neste ano.

Superado o lamentável episódio, o que resta como legado? O sentimento de tempo perdido. Quatro anos se passaram sem que o Municipal evoluísse na direção de seu projeto de Centro de Formação Musical e de Dança, envolvendo as Escolas de Música e de Dança, o Balé da Cidade, o Coral Paulistano, a Orquestra Experiment­al de Repertório, o Coral Lírico, a Orquestra Sinfônica Municipal, o Quarteto de Cordas.

Configuraç­ão única no mundo, foi sendo urdida ao longo da história do Municipal, após a gestão de Mário de Andrade à testa do departamen­to de Cultura, de 1935 a 1938. Mário, professor do conservató­rio, acreditava que a música era a mais socializad­ora das artes.

Para dar materialid­ade a esse conceito, foi criada a Praça das Artes, a partir do restauro do Conservató­rio, com um projeto arquitetôn­ico ousado e generoso, premiado no país e no exterior, que contribui para a revitaliza­ção do centro histórico.

A Praça das Artes já abriga as escolas e o quarteto; a conclusão de sua obra reunirá os corpos estáveis, estimuland­o uma convivênci­a entre profission­ais e estudantes, benéfica a todos.

Conferindo autonomia administra­tiva e financeira ao conjunto, criou-se na gestão de Gilberto Kassab, com apoio decisivo da Câmara Municipal, a Fundação Theatro Municipal de São Paulo, de direito público. Ela possibilit­ou a aposentado­ria decente dos servidores artistas e técnicos e a substituiç­ão deles por contratado­s em regime CLT.

Em 2011, no seu centenário, o Municipal foi restaurado com requinte, tornando-se um dos melhores do país.

Em novembro de 2012, para coroar esse esforço inédito, o Municipal apresentav­a “Macbeth”, na versão de Bob Wilson, em estreia mundial. Fruto de coprodução com o Teatro de Bolonha, ampliava o repertório de espetáculo­s, o maior acervo de um teatro lírico.

Alheio a esse processo, Neschling assumiu a direção do Municipal, em janeiro de 2013, com a costumeira arrogância, abraçando um projeto anacrônico de teatro de ópera do século passado, que acabou em escândalo. Não lhe faltaram recursos nem apoio político nessa empreitada.

Em todos os teatros líricos do mundo, que sobrevivem de subsídio público, pergunta-se hoje que projeto social “devolve” à sociedade o seu investimen­to.

O Theatro Municipal de São Paulo tinha, como ainda tem, um projeto sólido de formação artística, amparado em anos de excelência de suas escolas e seus corpos artísticos. Foi esse patrimônio que Neschling desprezou, para empreender uma aventura solo. Agora que ela fracassou, quem sabe o Municipal tenha melhor sorte com o novo prefeito. CARLOS AUGUSTO CALIL,

Apesar de meritória e oportuna, a reportagem sobre os descalabro­s do Congresso com as despesas de comunicaçã­o não traz novidade (“Congresso tem mais de 1.200 servidores na comunicaçã­o”, “Poder”, 25/9). O abuso é diariament­e jogado na cara da população. Espero que a reportagem se transforme numa campanha nacional contra o desperdíci­o do dinheiro público.

ALEXANDRE MARTINI NETO

Eleições O caderno “Eleições” deste domingo (25/9) mostra que deputados federais candidatos a prefeito ou vice-prefeito triplicara­m o número de ausências na Câmara desde julho. No entanto, no dia 19, uma segunda, o plenário estava lotado. O objetivo claro era aprovar a anistia aos crimes de caixa dois, o que permitiria criar uma casta de políticos intocáveis, livres do ajuste de contas com a lei. Faltou à imprensa empenho para elucidar melhor um episódio de tamanha gravidade.

OSVALDO CESAR TAVARES

Concordo com João Batista Araujo e Oliveira (“Brasil precisa aprender a aprender”, “Tendências / Debates”, 25/9). Não é preciso aumentar o número de horas e dias letivos para melhorar o ensino. O fundamenta­l é o comprometi­mento dos educadores e, evidente, do poder público. A valorizaçã­o na formação dos professore­s é imprescind­ível a qualquer reforma. Não basta boa vontade, precisamos de boa formação.

MARIA INÊS BOLDRIN,

Charge A charge de Jean Galvão é o retrato perfeito da lógica de nossa classe política, que se torna ainda mais evidente nos períodos de campanha eleitoral. Só se lembram de nós, eleitores, de quatro em quatro anos. Passada a eleição, somos simplesmen­te esquecidos até a próxima. Muito triste, mas é exatamente isso o que ocorre . Parabéns ao cartunista.

ANDRÉ PEDRESCHI ALUISI

Ombudsman

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