Primavera no Municipal
Entrevista do maestro John Neschling à Folha foi ritual patético, para suscitar compaixão e absolvição num país de sentimentais
O maestro John Neschling imolouse publicamente em entrevista publicada na coluna de Mônica Bergamo, nesta Folha, no dia 18. Foi um ritual patético, para suscitar compaixão e absolvição num país de sentimentais. Só faltaram as lágrimas, tão abundantes ultimamente.
Como estamos diante de um mitômano, convém ficar alerta. Qual a “narrativa” que ele quer passar? A de que foi vítima de políticos, de traidores, de medíocres, do país.
Analisando os fatos nas entrelinhas, fica claro que o maestro não foi demitido do Theatro Municipal de São Paulo pelo prefeito Fernando Haddad, com quem mantinha relações de familiaridade.
Foi afastado pelos conselheiros da organização social Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), gestora do Municipal, que se sentiram ameaçados com os desvios de comportamento do maestro fanfarrão. Numa organização social, os conselheiros são solidários nos desmandos da direção e pagam por isso —seus patrimônios pessoais avalizam os desvios financeiros.
O desfecho recente provocou uma onda de júbilo nos músicos, cantores e bailarinos, após anos de opressão, desprezo, gritos e império do medo. A primavera chegou antecipada ao Municipal neste ano.
Superado o lamentável episódio, o que resta como legado? O sentimento de tempo perdido. Quatro anos se passaram sem que o Municipal evoluísse na direção de seu projeto de Centro de Formação Musical e de Dança, envolvendo as Escolas de Música e de Dança, o Balé da Cidade, o Coral Paulistano, a Orquestra Experimental de Repertório, o Coral Lírico, a Orquestra Sinfônica Municipal, o Quarteto de Cordas.
Configuração única no mundo, foi sendo urdida ao longo da história do Municipal, após a gestão de Mário de Andrade à testa do departamento de Cultura, de 1935 a 1938. Mário, professor do conservatório, acreditava que a música era a mais socializadora das artes.
Para dar materialidade a esse conceito, foi criada a Praça das Artes, a partir do restauro do Conservatório, com um projeto arquitetônico ousado e generoso, premiado no país e no exterior, que contribui para a revitalização do centro histórico.
A Praça das Artes já abriga as escolas e o quarteto; a conclusão de sua obra reunirá os corpos estáveis, estimulando uma convivência entre profissionais e estudantes, benéfica a todos.
Conferindo autonomia administrativa e financeira ao conjunto, criou-se na gestão de Gilberto Kassab, com apoio decisivo da Câmara Municipal, a Fundação Theatro Municipal de São Paulo, de direito público. Ela possibilitou a aposentadoria decente dos servidores artistas e técnicos e a substituição deles por contratados em regime CLT.
Em 2011, no seu centenário, o Municipal foi restaurado com requinte, tornando-se um dos melhores do país.
Em novembro de 2012, para coroar esse esforço inédito, o Municipal apresentava “Macbeth”, na versão de Bob Wilson, em estreia mundial. Fruto de coprodução com o Teatro de Bolonha, ampliava o repertório de espetáculos, o maior acervo de um teatro lírico.
Alheio a esse processo, Neschling assumiu a direção do Municipal, em janeiro de 2013, com a costumeira arrogância, abraçando um projeto anacrônico de teatro de ópera do século passado, que acabou em escândalo. Não lhe faltaram recursos nem apoio político nessa empreitada.
Em todos os teatros líricos do mundo, que sobrevivem de subsídio público, pergunta-se hoje que projeto social “devolve” à sociedade o seu investimento.
O Theatro Municipal de São Paulo tinha, como ainda tem, um projeto sólido de formação artística, amparado em anos de excelência de suas escolas e seus corpos artísticos. Foi esse patrimônio que Neschling desprezou, para empreender uma aventura solo. Agora que ela fracassou, quem sabe o Municipal tenha melhor sorte com o novo prefeito. CARLOS AUGUSTO CALIL,
Apesar de meritória e oportuna, a reportagem sobre os descalabros do Congresso com as despesas de comunicação não traz novidade (“Congresso tem mais de 1.200 servidores na comunicação”, “Poder”, 25/9). O abuso é diariamente jogado na cara da população. Espero que a reportagem se transforme numa campanha nacional contra o desperdício do dinheiro público.
ALEXANDRE MARTINI NETO
Eleições O caderno “Eleições” deste domingo (25/9) mostra que deputados federais candidatos a prefeito ou vice-prefeito triplicaram o número de ausências na Câmara desde julho. No entanto, no dia 19, uma segunda, o plenário estava lotado. O objetivo claro era aprovar a anistia aos crimes de caixa dois, o que permitiria criar uma casta de políticos intocáveis, livres do ajuste de contas com a lei. Faltou à imprensa empenho para elucidar melhor um episódio de tamanha gravidade.
OSVALDO CESAR TAVARES
Concordo com João Batista Araujo e Oliveira (“Brasil precisa aprender a aprender”, “Tendências / Debates”, 25/9). Não é preciso aumentar o número de horas e dias letivos para melhorar o ensino. O fundamental é o comprometimento dos educadores e, evidente, do poder público. A valorização na formação dos professores é imprescindível a qualquer reforma. Não basta boa vontade, precisamos de boa formação.
MARIA INÊS BOLDRIN,
Charge A charge de Jean Galvão é o retrato perfeito da lógica de nossa classe política, que se torna ainda mais evidente nos períodos de campanha eleitoral. Só se lembram de nós, eleitores, de quatro em quatro anos. Passada a eleição, somos simplesmente esquecidos até a próxima. Muito triste, mas é exatamente isso o que ocorre . Parabéns ao cartunista.
ANDRÉ PEDRESCHI ALUISI
Ombudsman