Polêmica que envolve delação premiada abala política de RR
Ex-funcionária da Assembleia diz ter sido pressionada a culpar deputados
Acusação foi feita após vir à tona gravação em que ela seria coagida por advogados ligados à governadora do Estado
Uma das principais ferramentas na Operação Lava Jato, o instituto da delação premiada está no centro de uma controvérsia que movimenta a política de Roraima, com trocas de acusações sobre supostas tentativas de coação de presos para acusar um grupo de parlamentares adversários do governo do Estado.
O assunto veio à tona a partir de denúncias feitas pela advogada Mônica Pierce Amorim Cseke, em Boa Vista e em Brasília, onde circulou por órgãos públicos como a Polícia Federal para entregar documentos e uma gravação.
Na segunda-feira (5), poucos dias após conversar com autoridades e com a Folha, Cseke morreu em um hospital de Brasília. Segundo a OAB-DF, ela teve complicações de uma cirurgia para retirada de cálculo renal. Tinha 33 anos e estava grávida —o bebê também não sobreviveu.
Cseke era advogada de vários presos na Operação Cartas Marcadas, desencadeada em 15 de junho pelo Ministério Público de Roraima para investigar um grupo de empresários e servidores da Assembleia Legislativa local acusados de mascarar desvios de recursos públicos e lavagem.
No começo de agosto, uma das clientes de Cseke, Verona Sampaio Lima, ex-coordenadora de licitações da Assembleia, escreveu uma carta na qual dizia estar sofrendo coação e ameaças para fazer uma delação premiada.
Segundo Lima, que estava presa, a pressão ocorria para incriminar,com“alegaçõesinverídicas, infundadas e caluniosas”, um grupo de deputados estaduais e o presidente da Assembleia, Jalser Renier (SD), adversário da governadora Suely Campos (PP).
A sugestão da delação, segundo Lima, partiu dos advogados Frederico Leite, defensor de Neudo Campos, marido da governadora, e Ângelo Peccini Neto, diretor da Secretaria de Articulação Municipal do Estado de Roraima.
Além da carta, Lima entregou a Cseke uma gravação feita em 19 de julho em um prédio da Polícia Militar de Boa Vista, onde estava presa. No encontro, Leite e Peccini Neto, que aparentemente não sabiam da gravação, falam sobre uma possível delação.
Uma voz diz: “Seleciona duas ou três pessoas aí que vocês podem denunciar, que vocês têm interesse em denunciar. E outra, até constrói isso aí. Às vezes uma mentira bem contada, desde que ofereça uma verdade muito forte.”
À Folha os advogados negaram irregularidades. Disseram que Lima e outros dois presos é que estavam propensos a fazer uma delação e os chamaram ao prédio da PM para falar sobre o caso.
“Grande parte do que a advogada alegou não é verdade e está sendo apurado pelo Ministério Público, pela OAB”, disse Leite. Peccini Neto afirmou que os presos se sentiam “coagidos” pela advogada.
Segundo o promotor que coordena o Gaeco, Marco Antônio Azeredo, um advogado ligado a Cseke tentou embaraçar a investigação e constranger investigados.
O Gaeco também vai buscar informações sobre a morte de Cseke. A Folha não localizou a família dela.
O presidente da Assembleia negou movimento para inibir ou constranger presos.