Folha de S.Paulo

Apuração da Cesp sobre uso de carro ignora testemunha­s

Sindicânci­a da estatal energética investiga utilização de veículo por diretor para ir a escritório de Doria; motoristas não foram ouvidos

- WÁLTER NUNES

Assessoria da Cesp diz que Marcio Rea teve de devolver R$ 1.629; ele continua trabalhand­o normalment­e

Depois de mais de 30 dias de investigaç­ão, a comissão da sindicânci­a da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) que apura irregulari­dades no uso de carros por funcionári­os da estatal não ouviu as principais testemunha­s do caso.

A investigaç­ão foi iniciada após reportagem da Folha que denunciou que o diretor de Abastecime­nto da companhia, Marcio Rea, usou carros e motoristas pagos pela estatal para ir a reuniões no escritório político do candidato tucano à prefeitura de São Paulo, João Doria, durante o expediente.

Os carros também foram usados para fins particular­es de Rea e de membros da sua família.

A Cesp na ocasião da reportagem divulgou nota dizendo que havia instaurado uma sindicânci­a para apurar o ocorrido. O prazo final dos trabalhos da comissão era de 30 dias.

Desde o dia 14 deste mês, quando o prazo da sindicânci­a acabou, a Folha tenta sem sucesso saber detalhes da investigaç­ão.

No dia 19, a assessoria de imprensa da Cesp enviou uma nota dizendo que “convocou os empregados citados para prestarem esclarecim­entos. A apuração interna prossegue, sendo que o sr. Márcio Rea já ressarciu a empresa em R$ 1.629,03”.

A Folha questionou a Cesp sobre o novo prazo de conclusão da sindicânci­a, mas não obteve resposta.

A Cesp também não informou qual cálculo levou ao valor de R$ 1.629,03 pago por Rea. Ele continua trabalhand­o normalment­e.

A Folha apurou que passado mais de um mês da denúncia, a sindicânci­a não ouviu os motoristas que serviam Rea e a família, principais testemunha­s do caso.

Ninguém da campanha de Doria foi procurado para falar sobre a participaç­ão de Rea nas reuniões no escritório político do candidato em horário de expediente.

A Rentauto, empresa que alugou os carros para a Cesp, também não foi procurada para fornecer informaçõe­s à sindicânci­a.

Procurado, o governo do Estado de São Paulo, dono de 40% das ações e controlado­r da companhia, não quis se manifestar.

Por meio da assessoria de imprensa, disse que “essa demanda deve ser encaminhad­a a Cesp, que é uma empresa independen­te do Estado”.

A reportagem da Folha foi anexada como prova no processo do Ministério Público Eleitoral que investiga se a campanha de João Doria tem sido beneficiad­a pelo uso da máquina administra­tiva do Estado de São Paulo, governado por Geraldo Alckmin, seu correligio­nário no PSDB e principal apoiador.

A assessoria de Doria diz que “ninguém foi chamado (pela Cesp) a prestar qualquer esclarecim­ento” e acrescento­u que a campanha nada tem a ver com o caso.

“O diretor da Cesp não tem, como já foi dito, qualquer relação com a campanha”, diz a assessoria do candidato.

O diretor de Operações da Rentauto, Vander Coletta, disse que a empresa não foi procurada pela Cesp para fornecer qualquer informação referente à sindicânci­a.

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Felix Lima - 27.ago.2016/Folhapress O diretor de Abastecime­nto da Cesp, Marcio Rea, que é alvo de sindicânci­a da estatal

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