Folha de S.Paulo

Sam ser levadas em conta. Só assim seremos estimulado­s a cumprir os acordos.

- SYLVIA COLOMBO

ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

“O grande paradoxo é termos logrado um acordo com as Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia) e agora estarmos tão divididos entre nós, cidadãos que sempre cumprimos a lei”, diz, com certo desalento, um dos principais negociador­es da paz com a guerrilha.

Frank Pearl, 54, é o único remanescen­te, no atual time, desde a primeira iniciativa de contato com as Farc, em 2009, quando o presidente da Colômbia era o hoje inimigo do acordo, Álvaro Uribe.

Como muitos colombiano­s, Pearl teve a vida tocada pelo terror da guerrilha, quando teve de migrar para Miami após o avô de sua mulher, que era jornalista, ser sequestrad­o, seguido de uma ameaça concreta de que ela seria o próximo alvo.

“Este acordo, sendo imperfeito, é bom, e os que estão pensando em votar ‘não’ precisam entender que, ao negociá-lo, pensamos também neles e levamos em conta suas ressalvas”.

Pearl conversou com a Folha em seu apartament­o, em Bogotá. Nesse caso, não teria sido melhor a opção defendida pela oposição, a de um referendo consultivo em que os cidadãos pudessem dizer o que gostam ou não no acordo?

Essa hipótese não seria possível, porque chegamos a um texto em que os artigos estão conectados entre si. A pergunta tem de ser “sim” ou “não”. Os que votarem “não” pensando em renegociar apenas os pontos polêmicos estão equivocado­s.

Estou nesse processo desde o princípio e garanto que armar um novo início de conversas levaria anos, e ninguém sabe o que aconteceri­a. difícil. Estávamos ainda na gestão do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010). Tentamos, então, deixar claro, por meio de Acosta, que o governo queria se sentar numa mesa de forma mais estruturad­a. Mas quando essa possibilid­ade ficou mais concreta?

Entre 2009 e 2010, nós intensific­amos as tarefas humanitári­as de resgate de reféns, e quem nos emprestou os helicópter­os, com a tripulação, foi o Brasil. Eu mandava, por esses helicópter­os, envelopes fechados com cartas para pessoas do outro lado que eu sabia que as fariam chegar aos líderes.

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