Houve um contexto que travou o andamento das coisas que foi o rompimento
Folha - Está otimista para o plebiscito?
Frank Pearl - Sim, estou otimista. Nossa principal preocupação é fazer com que as pessoas saiam para votar, porque as pesquisas mostram um nível de participação baixo. Deve dar para o “sim”, mas imagino que com um resultado apertado.
Quero que os cidadãos saiam a votar, pelo “sim” ou pelo “não”, mas que votem. Nosso principal inimigo no próximo domingo seria a abstenção [na Colômbia, o voto não é obrigatório]. É verdade que o governo teme que uma vitória arrasadora do “sim” possa ser prejudicial?
Sim. Se o “sim” tiver 90%, isso poderia ser interpretado como um cheque em branco para as Farc. Não seria nada bom. Porque a ideia deste acordo é que ninguém tenha um cheque em branco.
É importante que exista um número de cidadãos que expressem suas preocupações, e essas ressalvas preci- Os senhores, como equipe de negociação, eram contra o plebiscito como forma de referendar o acordo? Por quê?
Essa hipótese foi levantada no começo. [O presidente Juan Manuel] Santos disse que queria o plebiscito. Não nos parecia necessário, mas ele insistiu que deveria haver um mecanismo para referendar, e a população devia participar. Estávamos propondo uma mudança tão grande de rumo do país, que era preciso perguntar às pessoas. Pode contar como foi o início deste processo?
Tínhamos um facilitador, Henry Acosta, um empresário próximo a Pablo Catatumbo [um dos líderes das Farc], que se mostrou interessado em promover uma aproximação, mas isso era algo lento e O governo brasileiro soube disso?
Nesse primeiro momento, não. Mas quando comecei a receber respostas positivas, fui ao Brasil e tive uma reunião com Celso Amorim [então ministro das Relações Exteriores]. Ele me confirmou que o Brasil estava disposto a cooperar e me ofereceu um mapa de lugares em que poderíamos nos encontrar com a guerrilha em território brasileiro, nessa primeira fase, que era até então secreta.
Era essencial que os encontros não fossem na Colômbia, porque fazê-los aqui gerava muita preocupação. Então fazíamos algumas no Brasil, próximo a Manaus, e outras no Equador. Isso se interrompeu por algum motivo específico?