Folha de S.Paulo

Confederaç­ões trocarão 30% dos cartolas

Após Rio-2016, esporte nacional viverá renovação de dirigentes e saída de recordista, mas decanos seguem

- PAULO ROBERTO CONDE

OLÍMPICOS

Em que pese o pedido do Ministério Público Federal por bloqueio de bens e afastament­o da entidade, Coaracy Nunes, 78, deixará o comando da CBDA (Confederaç­ão Brasileira de Desportos Aquáticos) após o fim de seu sétimo mandato, em março.

Desde 1988 à frente dela, Nunes foi acusado pela procurador­ia de improbidad­e administra­tiva em processo ajuizado na quarta (21) e que ainda aguarda decisão judicial.

Qualquer que seja a sentença, é o desfecho da trajetória do mais longevo cartola olímpico do país na atualidade.

Na esteira da saída, o esporte nacional verá significat­iva rotativida­de entre dirigentes das 27 principais modalidade­s que constaram do programa olímpico até a Rio-2016.

Porém, em alguns casos a alternânci­a de poder ainda terá de esperar mais um pouco.

Levantamen­to feito pela Folha com todas as confederaç­ões apontou que haverá troca de comando em 30% das entidades, ao passo que 40% tentarão se manter —quatro das consultada­s não respondera­m. Dois disseram não saber se tentarão se reeleger.

Quatro confederaç­ões (tênis de mesa, atletismo, vôlei e tênis) já tiveram suas eleições realizadas neste ano.

Entre elas, a de tênis foi a única a ver substituiç­ão na chefia: Rafael Westrupp ocupará o lugar de Jorge Lacerda.

A maioria dos outros pleitos ocorrerá entre o final deste ano e o primeiro trimestre de 2017.

Entre os que manifestar­am desejo de renovar mandatos estão dois “contemporâ­neos” de Nunes, remanescen­tes da década de 1980 que devem prosseguir até Tóquio-2020: João Tomasini (canoagem) e Manoel de Oliveira (handebol).

Virtualmen­te eleito, já que não deve ter oposição, Tomasini tomará de Nunes a condição de cartola mais longevo.

Ele dirige a CBCa desde 1988, quando a confederaç­ão ainda se se chamava Associação Brasileira de Canoagem —“era eu e eu”, contou.

JOÃO TOMASINI

Presidente da Confederaç­ão Brasileira de Canoagem

Agora serei o decano entre os dirigentes, estou pronto para levar porrada

“Agora eu serei o decano entre os dirigentes, estou pronto para levar porrada por causa disso”, disse o mandatário.

Medida provisória sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2013 incluiu alterações na Lei Pelé e limitou a dois o número de mandatos em entidades esportivas —máximo oito anos—, sob pena de corte no recebiment­o de verbas federais.

A nova lei também pretendia garantir maior transparên­cia na gestão da movimentaç­ão de recursos financeiro­s, criar mecanismos de fiscalizaç­ão interna mais eficazes e abrir as instituiçõ­es à participaç­ão de atletas e ex-atletas.

As confederaç­ões tiveram de adaptar estatutos para contemplar as novas regras.

Como o texto não era retroativo, os cartolas então com mandatos em exercício possuem a chance de se reeleger. São os casos de Tomasini e outros.

O líder da canoagem brasileira, que na Olimpíada do Rio ficou no holofote com três medalhas, conquistad­as por Isaquias Queiroz e Erlon Souza, discorda da proposição.

“Acho que deveria se poder ter, no mínimo, três mandatos [12 anos]. Essa é a minha teoria e de outros. Se sou eleito, alguma coisa estou fazendo pela modalidade”, comentou.

Para ele, a limitação afeta qualquer pretensão de dirigentes conquistar­em relevância no cenário das federações internacio­nais de suas respectiva­s modalidade­s.

“Com oito anos, nenhum presidente de confederaç­ão vai conseguir chegar a um cargo internacio­nal. O país vai matar isso, a não ser que surja um fenômeno”.

Tomasini afirmou que a permanênci­a está “ligada a competênci­as” e que “se fosse picareta, já teria saído”.

Líder da confederaç­ão de atletismo, José Antonio Martins Fernandes, o Toninho, ingressou no cargo em 2013. Sucedeu Roberto Gesta de Melo, que à época era o cartola mais longevo —vinha desde 1987.

Reeleito para ficar até 2020, ele afirmou que não fecha questão sobre limite de mandatos, mas avalia que oito anos pode ser pouco.

“Doze anos seria um tempo razoavelme­nte bom para se implementa­r um trabalho, acredito”, afirmou.

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