Folha de S.Paulo

O estilo Cuca

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O PALMEIRAS é o time que mais faz gols de faltas ou escanteios no Brasileirã­o e também o que mais recupera a bola no campo de ataque. No dia 4 de abril, data da apresentaç­ão de Cuca no Palmeiras, esta coluna trouxe a definição do próprio treinador sobre seu estilo: “Nunca fui obsessivo pela posse de bola. Vamos escalar de acordo com cada partida.”

Em cinco meses, o Palmeiras transformo­u-se. Saiu da eliminação na fase de grupos da Libertador­es para líder do Brasileirã­o por 18 rodadas. Nada mau para um clube sem o título nem o vice-campeonato há 19 anos.

Cuca reclama de ser tachado de técnico de um estilo só. Não é. O Palmeiras gosta mais das roubadas de bola no campo de ataque do que dos cruzamento­s. Gosta de pegar a defesa

FLUMINENSE X PALMEIRAS

rival desprotegi­da e resolver rápido as jogadas.

Nem sempre dá certo. Quando dava, Gabriel Jesus era o símbolo do time mais brilhante do primeiro turno do campeonato.

De lá para cá, algumas coisas mudaram. Gabriel Jesus foi jogar a Olimpíada e as eliminatór­ias, Róger Guedes caiu de produção, Cleiton Xavier nunca alcançou o nível que dele se espera. Como o Palmeiras também usa a bola parada, a liderança não foi ameaçada.

Porque a equipe de Cuca tem repertório.

O Atlético de Madri tinha a melhor bola parada do planeta em 2014. Foi elogiadíss­imo por isso, chegou à final da Liga dos Campeões em Lisboa e ganhou o título espanhol. O Atlético Mineiro ganhou a Copa do Brasil no mesmo ano, elogiado por usar o arremesso lateral como jogada ensaiada.

O Palmeiras é apenas o 16º colocado em levantamen­tos para a área dos 20 clubes do Brasileirã­o. Cruza menos do que Flamengo e Atlético, rivais direitos pelo título.

É mais justo ressaltar que Cuca trabalha detalhadam­ente para que as jogadas resultem em gols. Informa ao elenco onde o zagueiro adversário

PALMEIRAS X CORITIBA

vai se posicionar e ensaia o lugar em que a bola vai chegar. Seja por cima, como nos gols dos zagueiros Mina e Vitor Hugo contra o São Paulo, ou por baixo, como na falta do gol de Mina contra o Coritiba, neste sábado (24).

Mas Cuca gosta mesmo da marcação por pressão. Contra o Fluminense, no início da sequência de cinco clássicos, o segundo gol foi marcado por Jean de fora da área e nasceu de uma bola recuperada na intermediá­ria ofensiva.

O Brasileirã­o é uma corrida com obstáculos que dura sete meses e raras vezes teve um protagonis­ta apenas, do início ao fim. No ano passado, o Corinthian­s foi o campeão indiscutív­el, Sport, Atlético-PR, São Paulo e Atlético-MG foram líderes. Em 2013, o Cruzeiro assumiu a liderança para não largar mais apenas na 24ª rodada.

Gabriel Jesus marcou dez gols até a 13ª partida do Brasileirã­o. Nas últimas catorze, o Palmeiras só contou com um gol de seu goleador, fosse por suas ausências ou pela melhora da marcação. Nesta altura da campanha, é muito bom ter a bola parada como aliada. São 19 dos 47 gols marcados desta maneira — ou seja 40% deles.

Não significa que será assim até o fim do campeonato.

O Palmeiras está invicto há dez partidas do Brasileirã­o e neste período fez cinco clássicos. Conseguiu 14 pontos dos últimos 18 disputados e existe uma razão para isso. Mestre Cuca tem cardápio. Não um único prato.

Em 5 meses, o Palmeiras saiu da eliminação da Libertador­es para líder do Brasileiro por 18 rodadas

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