Folha de S.Paulo

Italiano controla chantagem emocional com risos, mas não chega a ser brilhante

- CÁSSIO STARLING CARLOS

FOLHA

Histórias românticas maiores que a vida circulam por aí desde que o mundo existe. A dificuldad­e maior é fazê-las surpreende­r. “Lembranças de um Amor Eterno”, filme mais recente de Giuseppe Tornatore, tenta renovar a tradição extrapolan­do o improvável e criando um romance que mistura tecnologia­s contemporâ­neas ao fascínio pela infinitude.

O diretor italiano que conquistou

A atriz Nina Hoss no papel de Barbara

o mundo com “Cinema Paradiso” nunca mais conseguiu reproduzir seu maior sucesso. A assinatura continuou atraindo fãs de primeira hora, mas também tornou mais evidentes as fragilidad­es de um cinema que se apoia demais no sentimenta­lismo.

O título “Lembranças de um Amor Eterno” sugere um daqueles derramamen­tos enjoativos que deram fama a Franco Zefirelli no passado, mas Tornatore afirma seu talento ao controlar um material cheio de riscos.

A trama reúne Amy, jovem estudante que trabalha como dublê em filmes, e Ed, astrofísic­o mais maduro que ela. Como ele é casado, a paixão é vivida à distância, por meio de conversas virtuais, cartões e mimos que ele envia quase diariament­e.

Essa ausência logo se transforma em sentimento de vazio e perda quando um fato maior impõe o fim do caso.

Mesmo quando apela para as lágrimas, Tornatore não deixa de dar atenção aos efeitos que a tecnologia vem produzindo nos afetos. Em vez de se entregar ao lamento nostálgico pelo que deixou de existir, o realizador explora o artifício para prolongar sua história com outros meios.

Ao dar vazão à fantasia, Tornatore diminui a dependênci­a que seu cinema tem da chantagem emocional. O resultado não chega a ser brilhante, mas dá para assistir sem conferir o relógio a cada cinco minutos. (LA CORRISPOND­ENZA) DIREÇÃO Giuseppe Tornatore ELENCO Jeremy Irons, Olga Kurylenko e Simon Johns PRODUÇÃO Itália, 2016, 12 anos ONDE em cartaz AVALIAÇÃO regular

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