Folha de S.Paulo

Previsão de seca e térmicas paradas ameaçam fornecimen­to de energia

Norte e Nordeste devem ter chuva abaixo da média a partir de outubro, dizem meteorolog­istas

- DIMMI AMORA TECNOLOGIA

Governo diz que risco de deficit de energia neste ano é zero e que “não visualiza risco de desabastec­imento”

O país entrará o próximo ano mais uma vez dependente de são Pedro para manter a atividade normal do sistema de fornecimen­to de eletricida­de. Dessa vez, as preces terão de ser dobradas.

Além de chuvas, o santo — para o qual ministros de Minas e Energia já apelaram no passado— terá que mandar ventos fortes para afastar a possibilid­ade de falhas no abastecime­nto e de aumento na conta de luz para o consumidor ao longo de 2017.

Os meteorolog­istas dizem que as regiões Nordeste e Norte devem ter secas severas durante o próximo período chuvoso (entre outubro e abril), com previsões de chuva entre 35% e 45% da média histórica das regiões. Nas outras áreas do país, a expectativ­a é de chuvas normais.

Com isso, as hidrelétri­cas do Nordeste podem ter que suspender a geração de energia. Sobradinho, reservatór­io baiano que é o maior da região, deve atingir o volume morto ainda neste ano. Em 2015, a represa ficou a 0,2 décimo de chegar a esse nível.

Isoladamen­te, uma hidrelétri­ca parada na região não seria problema: desde o apagão de 2001, o sistema nacional construiu redes que conseguem transporta­r energia de uma área do Brasil para outra. Além disso, as termelétri­cas, apesar de terem custo de geração mais elevado, conseguem produzir independen­temente do clima.

Mas a previsão de seca severa no Nordeste agora ameaça parar usinas termelétri­cas a carvão. No Ceará, o governo pode ter que escolher entre fornecer água para resfriálas ou para abastecer a população de Fortaleza.

Some-se a isso o fato de uma outra térmica a carvão, no Rio Grande do Sul, ter sido fechada recentemen­te por problemas ambientais. “APAGUINHOS” Especialis­ta na área de energia, o diretor técnico da consultori­a PSR, Bernardo Bezerra, afirma que, sem hidrelétri­cas e com menos térmicas, o sistema fica mais vulnerável. Se houver uma contingênc­ia, torna-se mais provável a ocorrência de “apaguinhos” .

Já a geração de energia eólica vem batendo recordes seguidos, chegando em alguns momentos do dia a ser responsáve­l por abastecer 67% da demanda na região Nordeste. Entretanto, o verão é o período com menos vento.

Segundo Elbia Melo, presidente da Abeólica (Associação Brasileira da Energia Eólica), desde 2013 a produção de energia por vento vem salvando a região. Para ela, a redução no verão é compensada pelo aumento da quantidade de eólicas.

Melo diz acreditar que a conjuntura levará a um acionament­o do sistema de bandeira —quando o custo de compra de energia térmica é repassado ao consumidor.

O cenário de poucas chuvas e ventos poderia ser compensado, argumentam especialis­tas, pela redução do consumo de energia, o que vem ocorrendo desde 2014 com a queda no nível de atividade econômica.

Hoje, há uma sobra entre a necessidad­e real e a quantidade que se pode produzir. Mas essa margem vem sendo reduzida nos últimos meses e pode deixar de existir se a economia voltar a crescer.

Além disso, segundo Bezerra, a sobra de energia atual é cerca de 50% menor que os números apontam. “Parte da sobra atual está só no papel”, afirma o especialis­ta.

Roberto D’Araújo, do Instituto Ilumina, que faz pesquisas no setor, lembra que o nível de água dos reservatór­ios é apenas suficiente para dois meses e meio de consumo — no passado, chegou a quase dez meses. “É um fator de instabilid­ade grande”, disse. OUTRO LADO O Ministério de Minas e Energia informou em respostaà Folha que o risco de deficit de energia neste ano é zero e que “não visualiza risco de desabastec­imento”.

De acordo com o ministério, o Nordeste tem grande capacidade de geração eólica e que os problemas com as usinas de carvão estão sendo solucionad­os.

A pasta afirmou ainda que o acionament­o do sistema de bandeiras é decidido por outros órgãos do sistema, como o ONS (Operador Nacional do Sistema) e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), e que a medida vai depender da necessidad­e de geração térmica. Nordeste Norte AS ALTERNATIV­AS Usinas térmicas Algumas usinas termelétri­cas a carvão talvez não possam atender à demanda quando a economia melhorar, porque estão paradas ou podem parar por falta de água ou licenças Geração eólica Há 379 usinas eólicas no país, e elas estão batendo recordes de produção, mas venta menos no verão, o que afetará a geração eólica quando ela poderá se tornar mais necessária O risco de apagão Com problemas na geração, aumentam riscos de pequenos apagões localizado­s em momentos de pouco vento, principalm­ente no Norte e no Nordeste

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