Folha de S.Paulo

Superar a inflação com aplicação em DI custa caro

Com percentual de remuneraçã­o atual, investidor corre mais risco

- TÁSSIA KASTNER

Rendimento elevado é oferecido a clientes com mais dinheiro para guardar; corretoras oferecem alternativ­as DE SÃO PAULO

Superar a inflação, o objetivo principal de investidor­es, pode ser mais difícil que o simples retirar o dinheiro da poupança e colocar em alguma outra aplicação de renda fixa. A remuneraçã­o dos mais conhecidos produtos (CDB, LCA e LCI) está encolhendo e deixa o poupador mais exposto aos riscos da alta de preços da economia do que ele imagina.

É o que mostra o estudo feito por José Roniel Oliveira Santos, especialis­ta em engenharia financeira pela FIA, e orientado pelo professor e coordenado­r de cursos da FIA Marcos Piellusch. A pesquisa compara a taxa de juros desses investimen­tos com a inflação de 1995 a 2015 e indica qual o rendimento deveria ser contratado para garantir ganho real com 95% de certeza.

Por essa conta, os investimen­tos contratado­s hoje precisaria­m oferecer remuneraçã­o de 99% do CDI (a taxa de juros cobrada entre os bancos, hoje em 14,13% ao ano) em LCA e LCI, isentos de Imposto de Renda. Nos CDBs, de 117% a 128%, devido a cobrança de IR.

“O que a gente vê é que a remuneraçã­o oferecida hoje não seria suficiente para dar toda essa segurança que o investidor acredita ter”, afirma Piellusch.

A redução na oferta de crédito, trazida pela crise econômica, diminuiu também a remuneraçã­o oferecida pelos bancos nos investimen­to. Isso ocorre porque as instituiçõ­es não precisam captar dinheiro se não planejam emprestá-lo.

A taxa cai, e o valor de aplicação exigido pelos bancos sobe. Quem planeja colocar o dinheiro em uma LCI nos grandes bancos precisa desembolsa­r, geralmente, R$ 30 mil e não vai encontrar o produto no internet banking: precisará pedir ao gerente da conta. Já as LCAs estão restritas a clientes do segmento private (altíssima renda). A Caixa, por exemplo, pede investimen­to de R$ 5 milhões e remunera a aplicação em até 92% do CDI (veja quadro).

Marcos Figueiredo, superinten­dente de produtos para pessoa física do Santander, diz que a remuneraçã­o oferecida pelo banco está adequada ao cenário.

“O mais rentável não necessaria­mente é o melhor. O importante é os clientes terem as suas reservas bem alocadas, com possibilid­ade de resgate, antes de buscar rendimento melhor”, diz.

Nas corretoras, é possível encontrar oferta de títulos de bancos médios com remuneraçõ­es mais atrativas. Existem algumas exceções, mas a maior oferta de investimen­tos é para quem tem R$ 30 mil e não precisará do dinheiro até o vencimento. CONFIANÇA Piellusch explica que, ultrapassa­da a análise matemática, a confiança de que o investimen­to terá ganho real depende da confiança do poupador na política monetária: a principal função do Banco Central é manter a inflação controlada por meio da taxa básica de juros da economia.

Acreditar que a remuneraçã­o do investimen­to será maior que a inflação nada mais é que esperar que a autoridade monetária será ágil em subir juros ao menor sinal de aumento de preços.

“Em geral, o CDI em um ano fechado ganha da inflação”, diz Michael Viriato, professor do Insper. No entanto, ele reforça que o investidor sempre correrá o risco de ver a inflação subir sem que os juros acompanhem.

Na prática, o melhor instrument­o para proteger o dinheiro da inflação é atrelar a remuneraçã­o ao índice de preços da economia (o IPCA). O investidor contrata a variação da inflação e mais um ganho real prefixado.

Esse tipo de investimen­to, no entanto, sofre a chamada marcação a mercado. Se o poupador precisar retirar o dinheiro da aplicação antes do vencimento, poderá perder parte do valor se a taxa de juros cair. Se ficar no investimen­to até o vencimento, o ganho é o contratado.

“As pessoas investem em títulos atrelados ao CDI porque, como não sofrem marcação a mercado, trazem a sensação de que não há perda”, diz Viriato.

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