Folha de S.Paulo

Cenário externo e reformas deixam dólar mais barato

Moeda estaria de R$ 0,20 a R$ 0,40 mais cara sem expectativ­a otimista com ajuste fiscal no Brasil e com ajuda involuntár­ia do Fed

- DANIELLE BRANT MARIANA CARNEIRO

O dólar no Brasil está mais barato do que espelha o atual nível de risco do país.

Cotada a R$ 3,24 (no mercado à vista), a moeda americana estaria entre R$ 0,20 e R$ 0,40 mais cara não fosse a expectativ­a otimista de investidor­es com o Brasil e com os países emergentes, dizem analistas.

Na quarta-feira (21), o Fed (banco central dos EUA) indicou que vai levar mais tempo para elevar a taxa de juros dos títulos americanos. Se ocorrer, o aumento virá em dezembro, preveem agora analistas. Novas duas altas ficariam para 2017. O ritmo é considerad­o mais lento e favorável ao Brasil, que ganha tempo para entregar as reformas fiscais prometidas pelo governo de Michel Temer enquanto convive com um dólar mais baixo.

Marco Maciel, economista­chefe da Bloomberg Intelligen­ce para a América Latina, afirma que o dólar no Brasil está artificial­mente na casa dos R$ 3,20. Com as contas do governo no presente ruins —a dívida bruta está em 69,5% e crescendo —, a cotação deveria estar em R$ 3,40.

Ele fez a estimativa comparando o risco do Brasil com o da Turquia. Em ambos os casos, o risco-país (medido pelo CDS, uma espécie de seguro contra calote) recuou. Mas no Brasil a queda se intensific­ou com a redução mais acentuada do dólar.

Neste ano, até a sexta-feira (23), a moeda brasileira se valorizou 22% em relação ao dólar. Já a lira turca perdeu 1% ante a divisa americana.

“Houve uma redução do risco político no Brasil, mes- mo que ainda não tenha avançado nenhuma reforma fiscal. Até dezembro, pelo menos, dura esse ‘frisson’, quando todo mundo acha que vai aprovar o teto [de gasto do governo]. Se não votarem, o risco-país pode subir de novo”, diz Maciel.

O diretor de pesquisas econômicas do Bradesco, Octavio de Barros, prevê um dólar ao redor de R$ 3,20 ao fim deste ano. “Mas, se tudo acontecer como espera o mercado e as reformas [fiscais] avançarem, é mais para R$ 3 do que para R$ 3,50”, diz. “O câmbio tem viés de baixa.”

A projeção se baseia na reversão, ocorrida em maio, nos preços dos produtos comerciali­zados pelo Brasil com o exterior, os termos de troca. Entre abril e maio, segundo o departamen­to econômico do banco, os termos de troca subiram 10%, interrompe­ndo uma tendência de queda iniciada em 2011.

O resultado se deve a melhores preços de exportação, o que tende a elevar o fluxo de dólares para o país e contribui para a queda da cotação da moeda. Mesmo que esse aumento se modere, como prevê o banco, os preços de- verão estacionar num patamar mais elevado do que o do início do ano.

Para André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual, é mais o cenário externo do que o doméstico que dá as cartas no preço do dólar hoje. Sem o clima benigno no exterior, com Fed mais devagar do que se esperava, o dólar chegaria a R$ 3,60, mesmo com as reformas.

“Se não fosse o exterior, o dólar estaria num patamar mais alto, mais valorizado, acima de R$ 3,30”, afirma Mauricio Nakahodo, do Mitsubishi UFJ Financial Group.

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