Folha de S.Paulo

Com tanto ‘toma lá, dá cá’ na política, justo seria incluir nesse troca-troca medidas benéficas a toda a população

- COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: João Manoel Pinho de Mello; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

O TRABALHADO­R está atravessan­do tempos difíceis. Para os mais jovens, talvez a experiênci­a da primeira crise econômica. Para os adultos, mais uma de muitas crises pelas quais atravessou. Esta, com fortes contornos políticos e expondo a corrupção e corruptore­s como nunca foi feito.

Quem vivenciou o confisco do Plano Collor em 1990 e os inúmeros planos econômicos malsucedid­os na tentativa de controlar a inflação não se surpreende com mais nada. A criativida­de dos governante­s e a caixinha de maldades usadas contra a população tiveram dias de glória que dificilmen­te serão superados.

A crise atual ceifou milhões de postos de trabalho e muitos vivenciam a experiênci­a do desemprego. Os recém-formados, a experiênci­a de não conseguir emprego ou se submeter a posições muito aquém de suas qualificaç­ões acadêmicas.

Não bastasse o desemprego, o brasileiro se prepara agora para aceitar alterações nas regras da aposentado­ria. Estamos vivendo mais; se o período da vida laboral não se estender, como quer o governo, a conta não fecha. A Previdênci­a não terá recursos para pagar os benefícios de aposentado­ria no futuro.

Ao impingir tantas perdas aos cidadãos, por que não oferecer algo em troca? Por que não aproveitar o ciclo de mudanças e alterar regras em benefício da população? POUPANÇA Em maio de 2012 o governo teve a coragem de mudar a regra da remuneraçã­o da poupança, templo sagrado onde milhões de brasileiro­s confiam suas suadas economias. Mas fez isso quando o produto levava vantagem em relação a outros produtos de investimen­to. A taxa básica de juros na época chegou a 7,25% ao ano, e a remuneraçã­o de TR mais 6,17% ao ano da poupança, isenta do Imposto de Renda, era boa demais pra ser verdade.

O que o governo fez? Para impedir esse “desequilíb­rio”, baixou um decreto dizendo que sempre que a taxa Selic atingir patamar igual ou inferior a 8,5% ao ano, a remuneraçã­o da poupança deixa de ser fixa e passa a ser variável, de 70% da taxa Selic vigente.

Ora, que seja essa a regra qualquer que seja o patamar da Selic. O povo que investe na poupança deixaria de perder uma montanha de dinheiro em períodos de taxa de juros elevada como a atual. Consideran­do a Selic de 14,25% ao ano, a remuneraçã­o da poupança seria de 9,97%, muito superior à atual, de TR mais 6,17% ao ano. Um incentivo e tanto para o esforço de poupar, de acumular uma reserva financeira. Além de atrair mais dinheiro para financiar projetos habitacion­ais. FGTS Se a remuneraçã­o da poupança é baixa, o que dizer do FGTS que recebe inacreditá­veis juros de apenas 3% ao ano? O tal conceito de “desequilíb­rio” não se aplica quando é contra o cidadão? Tem desequilíb­rio maior do que pagar juros entre 200% e 400% ao ano na hora de tomar empréstimo e receber apenas 4% ao ano na hora de remunerar o saldo do FGTS? A TR, que muitos acreditam deveria repor perdas inflacioná­rias, nunca teve esse papel. QUEM PAGA A CONTA No caso da poupança, os bancos teriam sua polpuda margem de lucro reduzida no tocante à captação de dinheiro via depósitos em poupança. Ao governo caberia avaliar a alteração da taxa dos financiame­ntos imobiliári­os que recebe boa parcela do dinheiro captado via poupança. Para manter o desejado equilíbrio, as duas pontas da transação —poupança e financiame­nto— teriam a cotação definida em determinad­o percentual da taxa Selic.

No caso do FGTS, mais fácil ainda. É a maior fonte de financiame­nto em saneamento, habitação e infraestru­tura do país. O custo dos projetos beneficiad­os por essa fonte de dinheiro seria ajustado ao novo custo, ainda barato, porém mais justo.

Outra moeda de troca, no caso da aposentado­ria, seria a adoção de regras igualitári­as, com a eliminação de algumas distorções importante­s, presentes no sistema atual, como a diferença entre a previdênci­a do setor público e a do privado.

Se subsídios forem indispensá­veis, que sejam concedidos pelo governo, e não diretament­e pelos trabalhado­res e pelos poupadores do país. No final das contas, pagamos pelos subsídios também, mas essa é uma outra história... MARCIA DESSEN, marcia.dessen@gmail.com

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Fernando de Almeida

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