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A Colômbia assinou esta semana o acordo de paz mais complexo da história recente de nossa vizinhança. O impacto para o Brasil é muito positivo.
Encerrada a guerra colombiana, porém, é hora de concebermos uma política consciente de aproximação com Bogotá. Afinal, nenhum vizinho sul-americano está melhor preparado e mais interessado que a Colômbia em dar cooperação naquilo que hoje constitui nossa maior ameaça internacional: a simbiose entre narcotráfico e crime organizado que atravessa nossas fronteiras, espalhando violência por todo o território nacional.
Juntos, Brasil e Colômbia são grandes exportadores da cocaína consumida nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Juntos, são forçados a gerir fronteiras tão complexas quanto gigantescas. Além disso, os dois países são considerados os mais biodiversos do planeta, ativo que ainda não aprenderam a aproveitar.
Para acontecer, porém, uma coalizão bem articulada entre Brasília e Bogotá demandará trabalho intenso, pois o histórico entre eles oscila entre a cizânia e o distanciamento. Apenas nos últimos anos houve aproximação.
Vide a trajetória dos últimos 20 anos. Quando Bogotá pediu apoio brasileiro para iniciar a guerra contra as Farc, na década de 1990, Brasília lhe negou ajuda. Quando os colombianos apresentaram um plano financiado por Washington para esse fim, o Brasil denunciou a ingerência americana e fez gestões diplomáticas na ONU, no Vaticano e nas principais capitais sul-americanas contra o vizinho. Sempre que as Farc violavam o território brasileiro, nosso exército preferia expulsá-las a bala em operações silenciosas e unilaterais antes de trabalhar com as forças colombianas.
Essa atitude começou a mudar na década de 2000. O Brasil vendeu aos colombianos aviões de guerra da Embraer e liberou a parceria policial que terminou prendendo Fernandinho Beira Mar. Ofereceu-se para sediar conversas entre Bogotá e as guerrilhas, pôs helicópteros brasileiros para atuar em operações de resgate, assinou um acordo de defesa e um instrumento de cooperação indígena, crucial na área da fronteira. De quebra, houve avanço significativo na relação comercial.
Isso, porém, convive com concepções de mundo muito diversas e um longo legado de distância. Temer foi o único presidente de um país sul-americano relevante a faltar à assinatura da paz.
Agora, o Brasil tem a oportunidade única de acelerar esse processo de aproximação, transformando-o em parceria eficaz. Como são duas sociedades que sempre deram as costas uma à outra, o crescimento do intercâmbio, uma vez destravado, tem tudo para ser rápido e exitoso.