Folha de S.Paulo

Investigaç­ão tenta justificar erro, diz defensor

- BELA MEGALE GABRIEL MASCARENHA­S

DE BRASÍLIA

A Polícia Federal diz ter identifica­do o risco de o exministro da Fazenda Guido Mantega fugir do Brasil entre setembro e outubro deste ano. O petista foi alvo da 34ª fase da Operação Lava Jato, na semana passada.

Nascido na Itália, Mantega tem dupla cidadania. Investigad­ores ouvidos pela Folha relatam, em conversas reservadas, que Mantega e a mulher, Eliane Berger, estavam com passagens compradas para Paris com embarque marcado para o dia seguinte ao da detenção, ocorrida na última quinta (22).

Segundo integrante­s da PF, após ser alvo de prisão temporária, revogada horas mais tarde pelo juiz Sergio Moro, Mantega remarcou a viagem para 8 de outubro, com retorno previsto para o dia 15 do mesmo mês.

O advogado do ex-ministro, José Roberto Batochio, negou que seu cliente tivesse uma reserva para o dia seguinte à operação, mas confirma que Mantega e a mulher planejavam viajar para Paris no dia 8 de outubro.

Batochio diz que o casal desistiu da viagem devido ao agravament­o da saúde de Eliane, em tratamento para combater um câncer.

O advogado de Mantega também rechaça que o petista planejou fugir do país. “Isso é uma sórdida invencioni­ce”, afirmou o defensor.

Entretanto, consideran­do haver risco de fuga, a PF seguiu monitorand­o o petista após sua soltura.

No início desta semana, a polícia identifico­u que o exministro petista cancelou a reserva para outubro.

De acordo com policiais que participam da investigaç­ão, o bilhete comprado garantia ao passageiro a possibilid­ade de embarcar em qualquer voo em que houvesse vaga —outro ponto rechaçado pela defesa do petista.

Diante do que identifico­u como plano de Mantega para sair do Brasil, a PF sugeriu informalme­nte ao juiz Sergio Moro que apreendess­e o passaporte do ex-ministro.

Até a tarde de terça (27), porém, não havia medidas cautelares que impeçam o exministro de viajar para o exterior.

A Polícia Federal diz ter indícios de que Guido Mantega atuou diretament­e para negociar o repasse de recursos ao PT, a fim de pagar dívidas de campanha.

Em depoimento ao Ministério Público Federal, o empresário Eike Batista declarou que foi procurado por ele para fazer um pagamento de R$ 5 milhões ao PT, em novembro de 2012.

Na época, o petista era presidente do Conselho de Administra­ção da Petrobras.

Sob orientação do partido, Eike teria firmado um contrato fraudulent­o com uma empresa do casal de publicitár­ios João Santana e Mônica Moura, para realizar as transferên­cias.

Os pagamentos foram feitos no exterior, num total de US$ 2,35 milhões.

Os recursos estão vinculados a supostos desvios na construção das plataforma­s P-67 e P-70, da Petrobras, construída­s para a exploração do pré-sal, em 2012.

A decisão de Moro de libertar o ex-ministro irritou a PF e os procurador­es envolvidos no caso. Ambos avaliam que o magistrado se submeteu à pressão pelo fato de a mulher de Mantega estar doente.

O petista foi preso enquanto acompanhav­a Eliane no hospital Albert Einstein, em São Paulo.

DE SÃO PAULO

Ao negar o plano de fuga, o advogado de Guido Mantega, José Roberto Batochio, disse que a investigaç­ão tenta justificar supostos erros cometidos na operação que levaram à prisão do cliente.

“A PF e os procurador­es sabem que a prisão pegou muito mal e estão fazendo misérias para convencer a população de que não cometeram ilegalidad­e. Querem justificar o injustific­ável. Mantega tem residência aqui, é professor na Fundação Getúlio Vargas, enfim, isso é um absurdo”, afirmou o defensor.

A defesa nega que o ex-ministro tenha conversado com Eike sobre os fatos apontados.

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