Folha de S.Paulo

Absolviçõe­s no atacado

- JANIO DE FREITAS COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Mario Sergio Conti, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

NEM A “investigaç­ão” do ministro da Justiça se justifica, antes devendo-se um agradecime­nto a esse precário Alexandre de Moraes; nem é verdadeiro que desembarga­dores paulistas tenham apenas anulado os cinco julgamento­s e condenaçõe­s precedente­s dos 74 PMs do massacre de 111 presos no Carandiru.

A tal investigaç­ão, por Moraes ter informado jornalista­s de nova operação da Lava Jato nesta semana (a prisão de Antonio Palocci), está a cargo da Comissão de Ética da Presidênci­a. A Comissão, porém, não tem condições de investigar a ética de alguém, se não olha à sua volta e toma as providênci­as consequent­es.

Está na sua vizinhança, com banca de ministro na Presidênci­a, um “anão do orçamento”, integrante do grupo de deputados que fraudava o Orçamento nacional em proveito próprio. Também com banca na Presidênci­a, também o recordista de fraudes em concorrênc­ias, mancomunad­o com as grandes empreiteir­as quando governador do Estado do Rio. E, para não perder mais tempo, um presidente homenagead­o por delações na Lava Jato e pendurado em processos na Justiça Eleitoral. Nenhum deles notado pela Comissão de Ética.

Acima de tudo, Alexandre de Moraes fez uma delação verdadeira. Quando delações de óbvia falsidade são feitas para receber prêmios, e aceitas como válidas, a delação que se comprovou, já de um dia para o outro, não deveria passar pela inversão ética de ser ela a perseguida.

Se esses argumentos forem insuficien­tes, ainda há o serviço prestado ao país por Alexandre de Moraes, como convém a um ministro da Justiça. No governo Dilma, os aécios não se cansaram de propalar que o governo interferia na Lava Jato, prejudicav­a-a, queria controlá-la. Até que o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, em nome da Lava Jato, disse que o governo jamais fez, ou tentou, qualquer interferên­cia na operação.

Moraes e sua delação aos repórteres revelaram mudança essencial. Mostrar-se informado de próximas ações da Lava Jato significa que o governo atual extinguiu a distância que o separaria das operações, como se deu com a liberdade plena entregue, por Dilma e José Eduardo Cardozo, à ação da Polícia Federal.

Conhecimen­to das ações da Lava Jato, sendo a PF subordinad­a ao ministro, só tem sentido se for para praticar o poder hierárquic­o de influência. Para quem se lembra do que disseram Romero Jucá e outros, sobre a necessidad­e e modo de “parar essa sangria” feita pela operação, Moraes deu sinal de grande utilidade. Por mim, muito obrigado.

O sexto julgamento do Carandiru, por sua vez, ocorre quase um quarto século depois do massacre. Os desembarga­dores Ivan Sartori, relator, Camilo Léllis e Edison Brandão determinam que o processo volte ao começo. Por sorte, não pensaram em começá-lo um pouco mais atrás, pelo morticínio de 111 presos.

Cinco conjuntos de condenação anulados em sequência, um quarto de século de liberdade e impunidade dos acusados —o que é isso, se não for uma forma de absolvição? Os 74 PMs estão absolvidos de fato, em demonstraç­ão irrefutáve­l do massacre que o sistema de Justiça —não os juízes como indivíduos, o sistema que os engolfa— aplica na ideia de Justiça. MEMÓRIA Shimon Peres era o último estadista vivo. Com a grandeza que tinha, sua simples existência era suficiente para impedir a natureza dos netanyahus de levá-los até onde desejariam.

Se lembrarmos do que disse Jucá ‘parar sangria’ da Lava Jato, Moraes deu sinal de grande utilidade

MISTÉRIO Pesquisas Datafolha: entre a de 21 e a de 26 de setembro, o líder Marcelo Crivella cai de 31% para 29%. Pesquisas Ibope, fechadas em 13 e 25 de setembro: o líder Marcelo Crivella sobe de 31% para 35%. Apenas 24 horas entre os fechamento­s e, no entanto, tendências opostas com seis pontos de diferença (ou cerca de 20%).

Nos demais candidatos, curiosamen­te, os resultados das duas pesquisas foram iguais ou vizinhos.

Mais problemas, daqui a pouco.

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