Acordo com 2ª guerrilha é novo teste colombiano
Depois de assinar paz com as Farc, governo tem conversas com o ELN
Com 5.000 integrantes, grupo pede negociação no próprio país e sob sigilo, diferentemente de acerto recém-fechado
Após a assinatura do acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), na última segunda (26), em Cartagena, o governo colombiano anunciou que pretende iniciar as negociações em “fase aberta” com o ELN (Exército de Libertação Nacional), até então a segunda maior guerrilha do país, ainda em atividade.
Governo e ELN já conversam na chamada “fase secreta”, quando negociadores de ambos os lados definem, em locais e datas desconhecidos, a agenda das discussões.
Na última terça (27), Santos disse que esse planejamento já está concluído, e inclui, de modo geral, os mesmos itens do documento das Farc: reparação a vítimas, reforma agrária, Justiça especial e participação política.
A dificuldade, porém, é que o governo colocou como requisito obrigatório ao início das conversas a entrega imediata dos reféns que estão em poder da guerrilha.
O ELN respondeu que esta não poderia ser uma exigência inicial para a negociação e se nega a cumpri-la agora.
Em vez disso, anunciou que cessaria atividades de ataques ao Exército e à população civil, num cessar-fogo unilateral, especialmente nos dias que antecedem o plebiscito das Farc (domingo, dia 2) como demonstração de boa vontade para abrir as conversas.
Segundo explicou à Folha o negociador do governo Frank Pearl, o ELN, por seus princípios ideológicos, não aceita que se repita um aspecto da negociação das Farc: dis- tante do país e sem o conhecimento da sociedade até sua conclusão (o acordo com as Farc foi feito em Havana e teve pouquíssimas informações vazadas até ser concluído).
“O ELN quer uma participação da sociedade maior, mais transparência e pede que as conversas sejam realizadas na Colômbia”, disse Pearl.
Apesar dos entraves hoje existentes, o ELN anunciou, logo depois da assinatura do acordo com as Farc: “Estamos prontos para a fase pública para dar continuidade ao acordado e buscar saídas às dificuldades”.
O ELN nasceu também nos anos 1960 e se define como uma guerrilha marxista com bandeiras parecidas às das Farc, exigindo melhor distribuição de terras e mais participação política. Enquanto as Farc, porém, abraçaram rapidamente o narcotráfico, o ELN, embora se envolva também com o tema, financia suas atividades essencialmente com a extorsão. Sua principal forma de pressão é o sequestro. Além disso, tem também na religião uma forte base desde sua fundação.
Um de seus principais inspiradores é o padre guerrilheiro Camilo Torres, e seu líder histórico mais importante foi o padre Manuel Pérez Martínez, o “cura Pérez”.
O governo tem pressa am acertar a paz com o ELN porque teme que dissidentes das Farc, que não aceitem o acordo, passem para as filas do ELN, como já ocorreu com parte de um batalhão, há alguns meses. Outra preocupação é que o ELN se apodere de rotas de tráfico ou zonas em que as Farc praticavam extorsão ou realizavam mineração de forma irregular e simplesmente as substituam.
Hoje contando com cerca de 5 mil membros, o ELN atua principalmente nos departamentos de Arauca, Boyacá, Casanare, Tolima, Antioquia, Cauca e Nariño.