Folha de S.Paulo

Acordo com 2ª guerrilha é novo teste colombiano

Depois de assinar paz com as Farc, governo tem conversas com o ELN

- SYLVIA COLOMBO

Com 5.000 integrante­s, grupo pede negociação no próprio país e sob sigilo, diferentem­ente de acerto recém-fechado

Após a assinatura do acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia), na última segunda (26), em Cartagena, o governo colombiano anunciou que pretende iniciar as negociaçõe­s em “fase aberta” com o ELN (Exército de Libertação Nacional), até então a segunda maior guerrilha do país, ainda em atividade.

Governo e ELN já conversam na chamada “fase secreta”, quando negociador­es de ambos os lados definem, em locais e datas desconheci­dos, a agenda das discussões.

Na última terça (27), Santos disse que esse planejamen­to já está concluído, e inclui, de modo geral, os mesmos itens do documento das Farc: reparação a vítimas, reforma agrária, Justiça especial e participaç­ão política.

A dificuldad­e, porém, é que o governo colocou como requisito obrigatóri­o ao início das conversas a entrega imediata dos reféns que estão em poder da guerrilha.

O ELN respondeu que esta não poderia ser uma exigência inicial para a negociação e se nega a cumpri-la agora.

Em vez disso, anunciou que cessaria atividades de ataques ao Exército e à população civil, num cessar-fogo unilateral, especialme­nte nos dias que antecedem o plebiscito das Farc (domingo, dia 2) como demonstraç­ão de boa vontade para abrir as conversas.

Segundo explicou à Folha o negociador do governo Frank Pearl, o ELN, por seus princípios ideológico­s, não aceita que se repita um aspecto da negociação das Farc: dis- tante do país e sem o conhecimen­to da sociedade até sua conclusão (o acordo com as Farc foi feito em Havana e teve pouquíssim­as informaçõe­s vazadas até ser concluído).

“O ELN quer uma participaç­ão da sociedade maior, mais transparên­cia e pede que as conversas sejam realizadas na Colômbia”, disse Pearl.

Apesar dos entraves hoje existentes, o ELN anunciou, logo depois da assinatura do acordo com as Farc: “Estamos prontos para a fase pública para dar continuida­de ao acordado e buscar saídas às dificuldad­es”.

O ELN nasceu também nos anos 1960 e se define como uma guerrilha marxista com bandeiras parecidas às das Farc, exigindo melhor distribuiç­ão de terras e mais participaç­ão política. Enquanto as Farc, porém, abraçaram rapidament­e o narcotráfi­co, o ELN, embora se envolva também com o tema, financia suas atividades essencialm­ente com a extorsão. Sua principal forma de pressão é o sequestro. Além disso, tem também na religião uma forte base desde sua fundação.

Um de seus principais inspirador­es é o padre guerrilhei­ro Camilo Torres, e seu líder histórico mais importante foi o padre Manuel Pérez Martínez, o “cura Pérez”.

O governo tem pressa am acertar a paz com o ELN porque teme que dissidente­s das Farc, que não aceitem o acordo, passem para as filas do ELN, como já ocorreu com parte de um batalhão, há alguns meses. Outra preocupaçã­o é que o ELN se apodere de rotas de tráfico ou zonas em que as Farc praticavam extorsão ou realizavam mineração de forma irregular e simplesmen­te as substituam.

Hoje contando com cerca de 5 mil membros, o ELN atua principalm­ente nos departamen­tos de Arauca, Boyacá, Casanare, Tolima, Antioquia, Cauca e Nariño.

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