Folha de S.Paulo

Educação física e artes trazem benefícios

Consenso científico é a favor de maior oferta de atividade física a estudantes; artes podem aumentar criativida­de

- GABRIEL ALVES

Medida provisória do governo Temer para a educação não previa a oferta das disciplina­s no ensino médio

Dedicar-se a uma atividade artística —seja tocar piano ou aprender técnicas de escultura— faz uma pessoa ficar mais inteligent­e e melhorar seu desempenho em outras disciplina­s, como matemática e redação. Praticar uma atividade física, além de melhorar coordenaçã­o motora e aumentar a sociabilid­ade, diminui drasticame­nte a incidência de doenças como diabetes, obesidade, câncer e acidentes cardiovasc­ulares.

Na última semana, o governo Michel Temer (PMDB) editou uma medida provisória que eliminava a obrigatori­edade das disciplina­s de artes e de educação física no ensino médio. Apesar de a iniciativa abrir espaço na grade horária para a especializ­ação do currículo, não faltaram críticas —com embasament­o científico— ao governo, que recuou e afirmou que a obrigatori­edade permanecer­á na primeira metade do ensino médio.

No mundo, mais da metade dos jovens pratica menos que o recomendad­o de cinco horas semanais de atividades físicas moderadas a intensas, fato que se repete no Brasil — remover a educação física do rol de disciplina­s poderia ser considerad­o um desincenti­vo à melhoria desse panorama.

Na Convenção Internacio­nal de Ciência, Educação e Medicina Esportiva, que aconteceu em Santos (SP) no início do mês, um dos destaques foi a discussão e o consenso en- tre especialis­tas de que crianças que têm experiênci­as satisfatór­ias com o movimento do corpo no início da vida tendem a ser ativas mais adiante na vida adulta.

O desejo dos especialis­tas é que haja um aumento da oferta de atividades físicas, e a disciplina de educação física seria um mecanismo responsáve­l por essa transforma­ção.

Não só a obesidade, mas também a inatividad­e física é causadora de doenças. Além de patologias musculares e dos ossos, a lista de possíveis consequênc­ias abrange câncer de intestino e de mama, diabetes tipo 2, infarto e acidente vascular cerebral.

O impacto econômico da inatividad­e nos sistemas de saúde em todo o mundo foi calculado em US$ 53,8 bilhões por uma pesquisa publicada na revista “The Lancet”. Outro estudo da revista já havia calculado que 5 milhões de pessoas morrem anualmente por falta de exercício físico. ARTE PELA ARTE Se menos traumática para a saúde física, talvez a retirada da obrigatori­edade do ensino de artes possa ter impacto importante não só na formação cultural, mas também no aprendizad­o de outras disciplina­s.

Um estudo mostrou que crianças entre nove e dez anos que tiveram de pensar e raciocinar a respeito de um quadro que eles observavam melhoraram a capacidade de entender imagens científica­s —a conclusão é a de que o processo mental de visualizaç­ão gerado seria semelhante nas duas tarefas.

Um dos problemas que a área enfrenta já há alguns anos é a falta de uma metodologi­a adequada para a avaliação no impacto da dedicação à disciplina, e também a falta de pessoas interessad­as em fazer esse tipo de estudo.

Para amenizar esse problema, a OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) se dedicou a explorar o que poderia ir além da não tão convincent­e justificat­iva de somente estudar “arte pela arte”. Um relatório foi produzido em 2013.

Uma das correlaçõe­s mais curiosas é aquela entre a prática de modalidade­s artísticas (como teatro, música e dança) e melhores resultados em exames escolares.

O problema é estabelece­r a relação causa-efeito. Esse tipo de evidência aparece com nitidez, por exemplo, em relação aos benefícios das artes dramáticas para a compreensã­o e redação de textos.

Além de oferecer o contato com uma possível área de profission­alização, a OCDE diz acreditar que “a felicidade dos indivíduos será maior em países onde a arte tem um papel proeminent­e nas escolas”, apesar de não haver um estudo que aborde exatamente essa questão.

A entidade também elege a arte como a melhor maneira de fomentar a criativida­de, competênci­a hoje muito buscada em profission­ais por causa da capacidade de inovar e de achar soluções não usuais para toda sorte de problemas.

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