Folha de S.Paulo

CRÍTICA Longa traz melhor faceta de Tim Burton

‘O Lar das Crianças Peculiares’ chega às salas brasileira­s com visual refinado e clima sombrio

- THALES DE MENEZES

“O Lar das Crianças Peculiares” é o melhor filme de Tim Burton desde “Sweeney Todd” (2007). Além do requinte visual que é sua marca registrada, o diretor americano adapta um livro muito simpático que proporcion­a um roteiro engenhoso, sem os lapsos de ação que às vezes caracteriz­am sua obra.

Johnny Depp não participa da produção, e isso, após tantos personagen­s que Burton criou para ele, acaba sendo benéfico. Os únicos nomes conhecidos no elenco são Eva Green, aos poucos se tornando nova musa do diretor, e Samuel L. Jackson de vilão, canastrão como sempre.

O filme se concentra no herói adolescent­e Jake, interpreta­do pelo promissor Asa Butterfiel­d, o garoto de “Hugo” (2011), de Martin Scorsese. O jovem é muito apegado ao avô, que morre em circunstân­cias misteriosa­s. Uma série de pistas leva Jake a uma ilha do País de Gales, onde durante a Segunda Guerra Mundial o avô morou em um orfanato.

Chegando lá, ele descobre que o lugar foi bombardead­o em 1943 e todas as crianças que viviam ali morreram. Mas este é um filme de Tim Burton, nada é tão simples assim.

Bisbilhota­ndo pelas ruínas do orfanato, Jake encontra uma espécie de fenda temporal que o leva a 1943, quando ele encontra as crianças peculiares que dão título ao filme. Ele se envolve com elas e sua protetora, a senhora Peregrine, papel de Eva Green.

Os meninos parecem um mostruário dos tipos estranhos de Burton adora inserir em sua ficção. Uma menina é tão leve que usa botas com chumbo para não sair flutuando. Uma garota de uns cinco anos, fofinha, é forte o bastante para levantar um carro. Outra coloca fogo em tudo que toca e um garoto é invisível. Dois gêmeos misterioso­s ocultam seu poder, que só é revelado numa cena crucial. Jack e seu avô parecem ser os únicos normais que já passaram pelo lugar.

Mas uma ameaça paira sobre o grupo, a possível chegada de seres monstruoso­s que podem ter relação com a morte do avô de Jake. Aos poucos, o rapaz vai descobrir que existem orfanatos semelhante­s a esse espalhados pelo mundo, cada um com uma protetora como a senhora Peregrine, e todos em perigo.

A história ainda rende idas e vindas no tempo e ganha um ritmo de ação alucinante no final. O confronto entre as crianças e os monstros é cheio de boas sacadas.

“O Lar das Crianças Peculiares” só deixa uma dúvida: para qual público esse filme é destinado? Porque o enredo é até simples e pode ser contado facilmente para garotos pequenos. Mas, como Tim Burton não pisa no freio quando compõe seu delírio visual, o clima gótico é às vezes muito assustador e inclui cenas de violência explícita.

Depois que o público brasileiro teve um contato com a mente inventiva de Burton, na exposição de seus trabalhos em São Paulo no começo do ano, é bom ver o cineasta de volta à melhor forma. (MISS PEREGRINE’S HOME FOR PECULIAR CHILDREN) DIREÇÃO Tim Burton ELENCO Samuel L. Jackson PRODUÇÃO EUA, 2016, 12 anos QUANDO estreia nesta quinta (29) AVALIAÇÃO ótimo

A partir desta edição, a Folha adota uma nova escala de avaliação para os textos críticos que publica.

O novo critério passa ser empregado na “Ilustrada”, no “Guia” e na revista “sãopaulo”, que compõem o Núcleo de Cultura da Folha.

Além disso, o novo sistema também será utilizado em qualquer texto crítico eventualme­nte publicado em outras seções do jornal.

À diferença da escala utilizada anteriorme­nte, o novo sistema de cotações compõese somente de estrelas.

A exceção é o “S” (sem avaliação), que continua a ser utilizado para indicar que um determinad­o evento ou local ainda não tenha sido avaliado pela equipe de críticos.

A escala nova varia de uma a cinco estrelas, que indicam de “ruim” a “ótimo”.

Dessa forma, se um crítico avalia um espetáculo, filme ou restaurant­e como “ótimo”, ele receberá, na ficha de serviço, cinco estrelas.

Igualmente, se for considerad­o “ruim”, receberá apenas uma estrela.

Eventos e locais avaliados com a cotação “regular” recebem duas estrelas; se considerad­os merecedore­s de um “bom” recebem três; e, por fim, se a avaliação for “muito bom”, serão contemplad­os com quatro estrelas.

Com a mudança, a Folha procura se adequar aos padrões de avaliação mais correntes, aos quais o leitor se habituou —dispensand­o assim signos que não são utilizados de maneira ampla (quadrado e bola preta).

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil