DESCANSA MEUS OLHOS...
Sul da ilha é menos disputado que o norte e conserva oásis com faixa de areia intocada e muita área verde
Quem já foi há de concordar: com tantas atrações, Florianópolis é daqueles lugares que, a cada viagem, a gente sempre volta para casa fazendo as contas do que deixou para trás sem conhecer.
Pedacinhos de areia ainda intocados com trilhas que cortam morros tomados pela mata e terminam numa praia que dá pra encher o peito e gritar: “Gente, é só minha”.
Ah, Floripa... Dois mundos num mesmo pedaço. De um lado, um roteiro badalado, com ares de St. Tropez —ou seria Bevery Hills? Do outro, resquícios do legado da colonização açoriana, praias selvagens, gente simples e recantos em terra e beira-mar.
Se o norte da ilha é a região propícia para o agito, território apinhado de argentinos, o sul ainda mantém áreas preservadas para uma turma que, ao valorizar cenários verdejantes, está à procura de um contato mais íntimo com a natureza e um flerte com a história, como o oferecido pela bucólica Ribeirão da Ilha, uma das primeiras comunidades de Santa Catarina.
Eis um belo pretexto para esta edição se debruçar sobre aquela parte da “ilha da magia”, como Florianópolis é carinhosamente chamada.
Tome como exemplo a distante e deserta praia do Saquinho, na extremidade sul. Com uma pequenina faixa de areia desenhada entre rochas, de fundo para um morro coberto pela exuberância da mata atlântica, a praia é acessada por uma trilha calçada que passa por dentro de uma floresta. São cerca de 30 minutos, contornando o costão, com vista geral e irrestrita das praias da Solidão e dos Açores, seguindo até o contorno final da baía, no Pântano do Sul, com seus barquinhos a colorir o horizonte.
A solidão é quase certeira, tanto no caminho de ida quanto no de volta, acompanhada pela sinfonia de pássaros e o estouro do mar nas rochas. É de arrepiar. RELAXA, MANÉ Por aqueles lados ainda resistentes à expansão imobiliária, uma trilha íngreme, que leva uma hora (ou três vezes isso, se sair de Matadeiro), conduz até a praia mais preservada de Florianópolis: Lagoinha do Leste.
Se o mar assim permitir, uma viagem de barco (cerca de 15 minutos, partindo de Pântano do Sul) conduz os visitantes mais sedentários até sua área, praticamente intocada, que é a predileta de dez entre dez dos aventureiros.
Mínimo esforço, contudo, é o simples atravessar a passarela que liga a praia de Armação à ilha das Campanhas, de onde se tem a melhor vista da praia do Matadeiro, que, como o nome anuncia, era local em que se matavam baleias —hoje, moradores relutam em aceitar em suas águas a chegada da maricultura, atividade de criação de ostras que se espalha por Floripa.
Para chegar até a pequenina ilha, pare nos arredores da igreja de Sant’Anna, construída em 1772, onde arpoadores e tripulantes das baleeiras se confessavam e ouviam missa antes de dar início à pesca.
Desça até o deque de madeira da Armação, de costas para a igreja e de frente para o mar. Siga à direita, pela areia, até a passarela de madeira. Logo irá avistar o vaivém animado de pescadores.
A ilhota das Campanhas nos oferta bem mais do que uma bela vista, como se isso não bastasse. É ali também que o “manezinho”, como são chamados os nativos — e aqui não há tom jocoso no apelido— ainda mantém a sua essência mais autêntica.
Exemplo de resistência de que no sul o aspecto rústico da pesca ainda permeia as relações de contato entre forasteiros e seus moradores, donos de um peculiar sotaque.
Até tarde da noite, lá estão eles em alerta a qualquer movimento do anzol. A presença dos pescadores, sempre cercados por familiares e muitas crianças, confere um clima de vilarejo, aconchegante a quem por ali passeia.
O lado sul de Floripa é mais ou menos assim: um contato mais intimista tanto com a natureza quanto com seu povo. É para descansar os olhos, cansar o corpo, sossegar a mente e se encher de luz.
Pode apostar, quem ali pisar vai querer voltar.