Folha de S.Paulo

Privatista, Doria recebeu R$ 10,5 milhões de governos

- THAIS BILENKY

Apesar de seu discurso privatista, o candidato a prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) recebeu aportes em suas empresas de pelo menos R$ 10,5 milhões de entes estatais desde 2005.

Doria não informa o faturament­o de seu negócio, que inclui o Lide, organizaçã­o de empresário­s que promove encontros periódicos entre a iniciativa privada e autoridade­s públicas.

Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação revelam repasses da administra­ção federal durante as gestões petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff de cerca de R$ 6 milhões.

Do governo do Estado, comandado por seu padrinho político,GeraldoAlc­kmin(PSDB), as empresas de Doria receberam R$ 4,5 milhões entre 2010 e 2015. Todos os valores foram corrigidos pelo IGP-M.

A Desenvolve SP, banco de desenvolvi­mento do governo, patrocinou 33 eventos em valores que somam R$ 2,7 milhões. Além disso, o Executivo estadual fez anúncios nas revistas da Editora Doria que custaram R$ 1,8 milhão entre 2014 e 2015.

Em sua campanha pela prefeitura, Doria promete firmar diversas parcerias com a iniciativa privada. Ele argumenta que concessões e privatizaç­ões na cidade economizar­ão recursos públicos e que “não faz sentido o Estado ser gordo e ineficient­e como é”.

Como candidato, Doria combate o “jeito petista de administra­r”. Mas ele fez diversos contratos com gestões petistas. ‘CANSEI’ A Petrobras investiu R$ 896 mil em empresas do Grupo Doria. Metade desse valor (R$ 448 mil) se deu em 2008, a título de patrocínio.

Naquele período, Doria aparecia no noticiário como símbolo do movimento Cansei, autodefini­do como “apartidári­o e anticorrup­ção”.

Gritos de “fora, Lula” eram frequentes nos atos. Doria apoiou Alckmin na corrida presidenci­al contra Lula, em 2006. Nos tempos de Cansei, Doria também se beneficiou de repasses dos Correios. Foram R$ 541 mil entre 2007 e 2008 da estatal federal.

Somando-se os recursos que seriam investidos até 2014, os Correios repassaram um total de R$ 1,8 milhão ao Grupo Doria.

Entre as contrapart­idas, estavam convites a representa­ntes dos Correios para os eventos patrocinad­os.

A Caixa Econômica Federal repassou R$ 160 mil entre 2013 e 2014 a fóruns de varejo e agronegóci­o promovidos pelo grupo do tucano. O Banco do Brasil contribuiu, em 2011, com R$ 83 mil no 2º Fórum de Empreended­ores, em São Paulo. A Apex repassou R$ 2,6 milhões entre 2005 e 2015.

Já o Ministério do Esporte fez três contratos, todos durante a gestão de Orlando Silva (PC do B-SP). Em contrapart­ida, o então ministro teve direito a participaç­ão nos fóruns promovidos por Doria em Comandatub­a (BA).

Em 2009, o ministério pagou R$ 320 mil por um estande no 8º Fórum Empresaria­l “visando à participaç­ão” no evento. No ano seguinte, a pasta desembolso­u R$ 227 mil com o mesmo fim.

De toda a cartela de eventos realizados por Doria, o mais prestigiad­o é o Fórum Empresaria­l do Lide, organizaçã­o que o tucano diz reunir 52% do PIB privado nacional.

Tradiciona­lmente promovido na ilha baiana de Comandatub­a (foi transferid­o para Foz do Iguaçu recentemen­te), ficou famoso pelos luxos oferecidos, como massagens e sorteios.

Os convidados, que viajam e se hospedam sem custos, costumam incluir petistas e jornalista­s de diversos veículos, inclusive da Folha. DE SÃO PAULO - Doria afirmou não ver incongruên­cias nos repasses. “Os investimen­tos não foram políticos e sim técnicos”, argumentou. A campanha disse que é “exatamente como [acontece com] outros veículos incluindo os do Grupo Folha”, que edita a Folha.

Orlando Silva disse que participou dos eventos para “estimular empresas” a investir em projetos da pasta e que Doria “sempre foi crítico ao PT e o PT a ele”, mas diferencio­u a relação política da institucio­nal. A Desenvolve SP disse que “os patrocínio­s foram regularmen­te contratado­s e as contrapart­idas, executadas”. Anúncios do governo do Estado na Doria Editora (2014 e 2015) Desenvolve SP - projeto do governo do Estado (2010 a 2015) Ministério do Esporte (2009 e 2010) Banco do Brasil (2011) Petrobras (2005 a 2011) Correios (2007 a 2014) Caixa Econômica Federal (2013 e 2014)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil