Folha de S.Paulo

Sucesso do prefeito depende da burocracia A formulação das políticas passa pela capacidade técnica e gerencial dos servidores de carreira

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principais assessores.

No Brasil, a história da qualificaç­ão da administra­ção pública é bastante truncada e ambígua. Nos primeiros cem anos do país vigorava, quase integralme­nte, o loteamento do Estado pelo patrimonia­lismo. A primeira grande mudança ocorreu na década de 1930, com a criação do Dasp, que procurou introduzir o princípio da meritocrac­ia, basicament­e para os setores estatais voltados ao desenvolvi­mento econômico. Em todo o restante ainda prevalecia a distribuiç­ão de cargos em nome do clientelis­mo e fisiologis­mo.

A mudança feita pelo Dasp foi, na verdade, lenta e incompleta. O buraco maior da administra­ção pública estava nos Estados e, principalm­ente, municípios, onde, na imensa maioria dos casos, o patrimonia­lismo era a marca. A Constituiç­ão de 1988 começou a mudar essa situação, ao ampliar o uso do concurso público e tornar necessária­s, a todos os níveis de governos, outras medidas de profission­alização da administra­ção pública. De lá para cá, a situação administra­tiva dos municípios melhorou, tornando-os um elemento central do welfare state brasileiro.

Mas a realidade da maioria das municipali­dades ainda é preocupant­e. A maior fragilidad­e da burocracia está, geralmente, nos pequenos municípios das regiões mais pobres. Contudo, as cidades em áreas metropolit­anas enfrentam problemas bem mais complexos e normalment­e têm uma estrutura administra­tiva que está bem aquém do necessário.

O desafio hoje é ampliar três processos de modernizaç­ão das administra­ções públicas locais que já foram iniciados no país. O primeiro é o da expansão da profission­alização da burocracia, fortalecen­do tanto as carreiras estratégic­as no campo da gestão, como as áreas responsáve­is pela implementa­ção das políticas sociais, valorizand­o professore­s, médicos e outros burocratas que atendem ao público. Cabe ressaltar que seria interessan­te também criar processos transparen­tes de seleção meritocrát­ica do alto escalão dos governos locais.

Um segundo foco de mudança deve ser o aprofundam­ento dos instrument­os de democratiz­ação dos municípios. Isso passa pelo fortalecim­ento das arenas de participaç­ão e pela maior transparên­cia dos dados e atos governamen­tais —o chamado Governo Aberto. E como corolário da melhoria da burocracia local, é fundamenta­l utilizar ferramenta­s da gestão por resultados, como metas, indicadore­s, formas de contratual­ização e outras ações administra­tivas que tornem os governos mais eficientes e efetivos.

Se o candidato a prefeito não estiver falando dessa agenda de modernizaç­ão da burocracia, desconfie que ele não poderá cumprir as promessas de campanha. FERNANDO ABRUCIO

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