Milícias cobram de candidatos por campanha
RIO DE JANEIRO
Políticos teriam que pagar até R$ 120 mil para fazer caminhada e exibir propagandas
As milícias, grupos paramilitares formados por policiais, bombeiros e civis que exploram serviços como distribuição de gás e TV a cabo em zonas carentes do Rio de Janeiro, estão cobrando taxas para que candidatos a vereador possam fazer campanhas em seus domínios.
A informação foi revelada pelo jornal “O Globo”.
As milícias atuam principalmente em bairros da zona oeste, como Campo Grande e Santa Cruz, e em municípios da região metropolitana.
Após expandirem-se, no fim dos anos 1990, em territórios dominados por traficantes de drogas, os grupos passaram a cobrar da população taxas de serviços básicos e também proteção aos comerciantes, além de dominar a venda de combustíveis e o transporte com vans.
A Folha confirmou com dirigentes de partidos que atuam na região a necessidade de pagamento aos grupos para atos em territórios dominados por eles e para a distribuição de material de campanha nesses locais. Sob condição de anonimato, disseram que é uma prática comum, que não estreou neste ano.
O candidato precisa pagar um valor para ter direito a fazer caminhada no interior dos bairros e também para ter seus materiais de campanha expostos nesses locais.
Como os bairros das zonas norte e oeste são os mais populosos e costumam decidir as eleições da capital, o pagamento do candidato funciona como uma espécie de concorrência desleal. O mesmo estaria ocorrendo na Baixada Fluminense, em municípios como Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Seropédica.
Segundo “O Globo”, os valores cobrados variam de R$ 60 mil a R$ 120 mil.
Os candidatos à Prefeitura do Rio disseram que não costumam pedir autorização para fazer campanha nesses locais.
O Estado do Rio já teve ao menos 15 assassinatos de candidatos a vereador desde o final do ano passado.
Reportagem da Folha no início deste mês registrou que, segundo a Polícia Civil, ao menos 6 dos 15 crimes foram motivados por disputas entre milicianos.
Procurada sobre a informação específica de pagamento para autorização de campanha no domínios das milícias, a Polícia Civil do Rio ainda não se manifestou.
A polícia investiga se a morte do presidente da Portela, Marcos Falcon, que foi fuzilado na última segundafeira (26), em Madureira, zona norte da capital, teve motivação política. Ele, que era também subtenente da Polícia Militar, tentava se eleger vereador do Rio pelo PP.
No passado, integrantes de milícias da zona oeste chegaram a se eleger, por exemplo, à Câmara dos Vereadores e à Assembleia Legislativa. Uma CPI foi instalada em 2008 e diversos políticos foram presos por suspeita de ligação com os grupos paramilitares.