Folha de S.Paulo

Milícias cobram de candidatos por campanha

- LUCAS VETTORAZZO

RIO DE JANEIRO

Políticos teriam que pagar até R$ 120 mil para fazer caminhada e exibir propaganda­s

As milícias, grupos paramilita­res formados por policiais, bombeiros e civis que exploram serviços como distribuiç­ão de gás e TV a cabo em zonas carentes do Rio de Janeiro, estão cobrando taxas para que candidatos a vereador possam fazer campanhas em seus domínios.

A informação foi revelada pelo jornal “O Globo”.

As milícias atuam principalm­ente em bairros da zona oeste, como Campo Grande e Santa Cruz, e em municípios da região metropolit­ana.

Após expandirem-se, no fim dos anos 1990, em território­s dominados por traficante­s de drogas, os grupos passaram a cobrar da população taxas de serviços básicos e também proteção aos comerciant­es, além de dominar a venda de combustíve­is e o transporte com vans.

A Folha confirmou com dirigentes de partidos que atuam na região a necessidad­e de pagamento aos grupos para atos em território­s dominados por eles e para a distribuiç­ão de material de campanha nesses locais. Sob condição de anonimato, disseram que é uma prática comum, que não estreou neste ano.

O candidato precisa pagar um valor para ter direito a fazer caminhada no interior dos bairros e também para ter seus materiais de campanha expostos nesses locais.

Como os bairros das zonas norte e oeste são os mais populosos e costumam decidir as eleições da capital, o pagamento do candidato funciona como uma espécie de concorrênc­ia desleal. O mesmo estaria ocorrendo na Baixada Fluminense, em municípios como Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Seropédica.

Segundo “O Globo”, os valores cobrados variam de R$ 60 mil a R$ 120 mil.

Os candidatos à Prefeitura do Rio disseram que não costumam pedir autorizaçã­o para fazer campanha nesses locais.

O Estado do Rio já teve ao menos 15 assassinat­os de candidatos a vereador desde o final do ano passado.

Reportagem da Folha no início deste mês registrou que, segundo a Polícia Civil, ao menos 6 dos 15 crimes foram motivados por disputas entre milicianos.

Procurada sobre a informação específica de pagamento para autorizaçã­o de campanha no domínios das milícias, a Polícia Civil do Rio ainda não se manifestou.

A polícia investiga se a morte do presidente da Portela, Marcos Falcon, que foi fuzilado na última segundafei­ra (26), em Madureira, zona norte da capital, teve motivação política. Ele, que era também subtenente da Polícia Militar, tentava se eleger vereador do Rio pelo PP.

No passado, integrante­s de milícias da zona oeste chegaram a se eleger, por exemplo, à Câmara dos Vereadores e à Assembleia Legislativ­a. Uma CPI foi instalada em 2008 e diversos políticos foram presos por suspeita de ligação com os grupos paramilita­res.

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Rafael Andrade - 31.jul.08/Folhapress Favela Jardim Batam, na zona oeste do Rio de Janeiro

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