Folha de S.Paulo

Em peça, garota é expulsa de sua casa para a chegada da Olimpíada

‘Kiwi’, do canadense Daniel Danis, ganha 1ª montagem brasileira

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Um recorte de jornal com a imagem de jovens numa prisão superlotad­a na Romênia e a lembrança da Olimpíada de Atlanta (1996), quando moradores de regiões pobres foram expulsos de suas casas para a realização dos jogos, levaram o franco-canadense Daniel Danis a criar “Kiwi”.

“Fazemos isso em várias situações. Escondemos a miséria em vez de tentar acabar com ela”, diz o dramaturgo.

Escrito há 20 anos e montado pela primeira vez em 2008, no Canadá, o espetáculo ganha sua primeira versão brasileira neste sábado (1º).

Conta a história de uma garota, Kiwi (Rita Batata), que é expulsa da região pobre onde vive, já que ali serão construída­s as vilas dos próximos Jogos Olímpicos. Fugindo, encontra outros jovens, um clã de rebeldes, todos com codinomes de frutas ou legumes: sentem-se excluídos, não poderiam ter alcunhas normais, explica o dramaturgo. “E adotam nomes saborosos, que trazem boas lembranças.”

Tudo é narrado por Kiwi e seu amigo Lichia (Lucas Lentini), num tom entre o drama e o esperanços­o. “A obra tem equilíbrio entre a poesia da narrativa e a dureza da história”, explica Lucianno Maza, que assina a tradução e a direção da montagem nacional —com a estreia da peça, o texto em português sairá em livro, pela editora Benfazeja.

Danis borra a todo momento os limites entre narrativa e diálogo, entre tempo e espaço. E transita por diversos gêneros. No Canadá, foi encenado como espetáculo adulto. Na Alemanha, ganhou prêmio de teatro jovem. No México, foi apresentad­o para crianças.

“É um texto que permite várias leituras”, afirma Maza, que faz uma encenação voltada a adultos, “mas sem a pretensão de excluir os jovens”.

O diretor usa uma linguagem chamada coreografi­a dramatúrgi­ca, em que os movimentos dos atores, que transitam num tablado, são bastante precisos. Na peça, a dupla terá roupas brancas, numa assepsia que se contrapõe a sua condição de pobreza.

Maza conheceu o texto há seis anos, quando estudava dramaturgi­a franco-canadense, e quis montar a peça justamente no ano em que o Brasil sediaria a Olimpíada. Confirmou a vontade ao ver uma imagem da abertura da Rio2016: do alto do morro da Mangueira, crianças assistiam aos fogos do Maracanã. QUANDO sáb., às 21h30, e dom., às 19h; até 27/11 ONDE teatro Augusta, r. Augusta, 943, tel. (11) 3151-4141 QUANTO R$ 30 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos

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Arô Ribeiro/Divulgação Os atores Lucas Lentini e Rita Batata durante ensaio da montagem brasileira de ‘Kiwi’

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