Folha de S.Paulo

CRIME ELEITORAL

- DE BRASÍLIA DE SALVADOR

DO RIO

As eleições deste domingo (2) contarão com um efetivo “acima da média” das Forças Armadas: serão ao menos 25 mil homens em 408 cidades, segundo o ministro da Defesa, Raul Jungmann.

Em eleições passadas, segundo Jungmann, o reforço esteve presente em cerca de 300 municípios

A mobilizaçã­o vem em meio a uma onda de atentados contra candidatos a prefeito e vereador pelo país. Desde junho, 45 deles foram alvo de ataques com tiros —28 morreram, sendo 15 em plena campanha.

“Temos visto ações lamentávei­s de violência, embora sejam questões de polícia. O papel que desempenha­mos a pedido da Justiça Eleitoral é dar tranquilid­ade durante a votação”, diz Jungmann.

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Gilmar Mendes, afirmou que o órgão não tem informaçõe­s precisas sobre o total de tentativas de homicídios contra candidatos. “Mas estamos nos preocupand­o, sim, com esse quadro de violência.”

Ele classifico­u um dos casos mais recentes, o assassinat­o do candidato a prefeito de Itumbiara Zé Gomes (PTB), na última quarta-feira (28), de “chocante e deplorável”.

Segundo Mendes, “aparenteme­nte” muitos dos crimes têm motivações políticas. Nesta quinta (29), a Procurador­ia Regional Eleitoral do Rio solicitou “com urgência” à Polícia Federal a instauraçã­o de inquérito para apurar a ação de milícias nas eleições do Estado —elas estariam cobrando “pedágio” para candidatos fazerem campanha. CENA DE FILME Pelo país, a polícia já identifico­u mortes de candidatos relacionad­as ao tráfico de drogas, a assaltos e casos de vingança. Mas a maioria das mortes ainda está sendo apurada.

Em ao menos nove casos, os políticos foram alvo de emboscadas. Vários sofreram ameaças —caso de Balbino Mota (PV), prefeito de Presi- dente Tancredo Neves (BA) e candidato à reeleição.

Na madrugada desta quinta, ele foi perseguido ao voltar de um ato de campanha e foi alvo de tiros em um matagal. “Foi cena de filme. Só pensava na minha mulher e nos meus filhos”, diz.

Em várias outras situações, candidatos a prefeito ou vereador tiveram suas casas e carros atingidos por tiros.

Foi o caso do candidato a prefeito de Sousa (PB) Fábio Tayrone (PSB). Há cerca de dez dias, sua casa foi atingida por cinco tiros. Desde o início da pré-campanha, casas de 13 aliados do prefeito também foram alvo de ataques.

A Justiça determinou um toque de recolher na cidade, diariament­e às 22h.

Especialis­tas ouvidos pela Folha afirmam que a violência durante as eleições não é nova: na falta de estatístic­as oficiais, inclusive para comparação com pleitos anteriores, é a repercussã­o de casos como o de Itumbiara, os da Baixada Fluminense ou o que matou o presidente da Portela, Marcos Falcon, no Rio, que dá impressão de que houve recrudesci­mento na violência.

Se nas pequenas cidades as mortes e atentados têm como pano de fundo rixas políticas, em municípios de maior porte a disputa geralmente é ocasionada pela disputa de poder geográfico.

“Não temos tradição de crimes com fundo exclusivam­ente ideológico. É incomum um atirador matar por discordar da gestão ou das posições do candidato. Temos mortes por disputas de território e poder”, diz o professor da FGV Direito Michael Mohallen.

O pesquisado­r de segurança pública da UERJ Inácio Cano afirma que a violência de grupos como as milícias e o tráfico no Rio tem impacto mais direto nas campanhas de vereadores.

Candidatos a cargos majoritári­os têm mais recursos e exposição na TV; nas eleições proporcion­ais, o candidato precisa estar nos locais onde pretende garantir eleitores. (GABRIEL MASCARENHA­S, MARINA DIAS, JOÃO PEDRO PITOMBO E LUCAS VETTORAZZO)

Atentados e assassinat­os ocorridos ao longo da campanha

Casos por cidade Casos por cargo Vereador Pré-candidato Prefeito Vice-prefeito

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? Cortejo do candidato à Prefeitura de Itumbiara Zé Gomes, assassinad­o na quarta (28)
Pedro Ladeira/Folhapress Cortejo do candidato à Prefeitura de Itumbiara Zé Gomes, assassinad­o na quarta (28)

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