Folha de S.Paulo

Cenários

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Com a eleição indefinida à véspera do primeiro turno, diversas possibilid­ades de interpreta­ção estão abertas. Das seis capitais com maior peso político, apenas uma — Salvador, com ACM Neto (DEM) — deve decidir a parada neste domingo (2). Nas outras cinco, o jogo se encontra incerto.

Apesar da nítida e esperada primazia dos partidos alinhados ao novo governo, a atual oposição luta para sobreviver. O PT aparece com chance de ir ao segundo turno em Porto Alegre, São Paulo e Recife. No Rio de Janeiro, o PSOL está na briga para chegar à final. Apenas em Belo Horizonte os agrupament­os que se opõem a Michel Temer se encontram, a julgar pelas pesquisas, fora do páreo.

Mas nas quatro cidades em que pode haver confronto direita-esquerda, os candidatos progressis­tas, caso passem, começariam em desvantage­m. Sebastião Melo (PMDB), em Porto Alegre, João Doria (PSDB), em São Paulo, Marcelo Crivella (PRB), no Rio de Janeiro, e Geraldo Julio (PSB), em Recife, ocupam o topo das intenções de voto. São tecnicamen­te favoritos, portanto.

No segundo turno, imaginase que a esquerda tenda a se unificar em torno daquele que continuar adiante. Na capital gaúcha, onde Luciana Genro (PSOL) detém um eleitorado significat­ivo, e na carioca, em que Jandira Feghali (PC do B) pontuava perto dos colocados em segundo lugar, supõe-se que o apoio respectivo a Raul Pont (PT) e Marcelo Freixo (PSOL) ajude a equilibrar a disputa, se ocorrer. Mesmo em São Paulo, em que a candidatur­a de Luiza Erundina (PSOL) não decolou, o seu apoio a Haddad fará diferença, se este conseguir permanecer na contenda.

Isso mostra o quanto a incapacida­de de se unir prejudicou a esquerda. Caso PT, PSOL e PC do B estivessem juntos, é provável que Haddad, Freixo e Pont se encontrass­em automatica­mente no segundo turno. Divididos, abriram espaço para que Celso Russomanno (PRB) ou Marta Suplicy (PMDB), em Sampa, Pedro Paulo (PMDB), no Rio, e Nelson Marchezan Júnior (PSDB), em Porto Alegre, possam reduzir a competição a um acerto de contas entre aliados.

No que diz respeito à base governista, aliás, interessa observar, de um lado, o bom desempenho do Democratas (Salvador) e do PSB (Recife), embora como forças mais de tipo regional, e a competição nacional entre PSDB e PMDB, de outro. A possível vitória dos tucanos em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre os fortalece para 2018. Uma eventual primazia peemedebis­ta no Rio e em Porto Alegre, para não falar de São Paulo, alimentari­a a postulação de Temer.

Corre por fora o Partido Republican­o Brasileiro (PRB), ligado à Igreja Universal, cujas candidatur­as em São Paulo e Rio mostram que o projeto dessa confissão vai bem mais longe do que se imaginava.

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