Folha de S.Paulo

Tempestade em copo d´água

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SÃO PAULO - É exagerada a celeuma que estão fazendo com a suposta retirada da educação física e das aulas de artes do ensino médio.

Em primeiro lugar, mesmo que essas disciplina­s venham de fato a deixar de ser obrigatóri­as, isso está bem longe de significar uma supressão. Pela proposta, que ainda poderá ser modificada pelos parlamenta­res e pelo sempre volúvel Michel Temer, só português, matemática e inglês gozariam do status de obrigatóri­as.

Seria só a partir da segunda metade do ciclo médio (o segundo semestre do segundo ano) que o aluno poderia compor de forma mais livre o seu currículo. Como não dá para ocupar toda a grade só com as três obrigatóri­as, ele inevitavel­mente teria de preenchê-la com outras disciplina­s. Aqui, mesmo sem bola de cristal eu arriscaria afirmar que educação física e artes permanecer­iam entre as favoritas. A menos que a natureza humana tenha mudado muito de meus tempos de escola para cá, estudantes têm predileção por cursos que não imponham provas nem trabalhos. Se, além disso, permitem aos adolescent­es movimentar-se e divertir-se, tornam-se quase irresistív­eis.

No mérito, é bastante consensual a ideia de que é necessário flexibiliz­ar o ensino médio. O problema é que ainda não surgiu um gênio da matemática que explique como fazê-lo mantendo as 13 disciplina­s hoje obrigatóri­as nessa condição.

Também me parece desproposi­tada a grita em torno da possibilid­ade de o aluno escolher parte das cadeiras que cursará. Não faz muito sentido dizer que ele não está pronto para decidir sua área de concentraç­ão, se lembrarmos que, em menos de dois anos, vai ter de optar pelo curso universitá­rio que, em princípio, definirá todo o seu futuro profission­al.

É verdade que o governo Temer colhe o que semeou quando resolveu propor uma reforma dessa natureza por medida provisória. Fica parecendo mesmo que quer impor seus planos goela abaixo da sociedade. helio@uol.com.br

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