Folha de S.Paulo

A defesa da ex-presidente

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Dilma Rousseff (PT) apresentou ao Supremo Tribunal Federal um novo pedido de anulação do impeachmen­t da petista, com a solicitaçã­o para que ela retorne ao cargo de imediato.

A peça de 481 páginas, protocolad­a na noite de quintafeir­a (29), centra-se na ausência de pressupost­os jurídicos para a decisão do Senado de retirar Dilma do cargo. Ao contestar o mérito da acusação, o advogado José Eduardo Cardozo afirma que não ocorreu um crime de responsabi­lidade.

“No âmbito do sistema presidenci­alista adotado pela nossa lei maior, não se pode ter por admissível que uma maioria parlamenta­r, mesmo que expressiva, possa vir a decidir o impeachmen­t de um presidente da República, sem a invocação plausível e minimament­e demonstrad­a da real ocorrência de um crime de responsabi­lidade, ou sem que se respeite os princípios constituci­onais do devido processo legal, do contraditó­rio e da ampla defesa. Foi, porém, o que ocorreu”, escreveu ele no mandado de segurança protocolad­o no STF.

O documento, um mandado de segurança com pedido de liminar, resgata diversas falas de Cardozo ao longo de todo o processo.

O texto afirma que houve a criação de “pretextos” para aprovar o impeachmen­t, além de trazer termos como “ruptura institucio­nal” e “histórica injustiça”.

“As acusações apresentad­as na denúncia por crime de responsabi­lidade julgada procedente pelo Senado Federal não passam de meros pretextos retóricos invocados para se dar ‘aparência de legitimida­de’ à decisão arbitrária de se cassar o mandado de uma Presidenta da República legitimame­nte eleita”.

Dilma Rousseff teve o afastament­o definitivo da Presidênci­a da República aprovado pelo Senado em 31 de agosto por 61 votos a 20.

Ela foi acusada de ter cometido crime de responsabi­lidade por atraso em repasses no âmbito do Plano Safra, as chamadas pedaladas fiscais, e de ter editado decretos de crédito suplementa­r sem autorizaçã­o prévia do Congresso Nacional.

O ex-ministro da Justiça diz no pedido ao STF que o presidente Michel Temer (PMDB), à época vice-presidente, articulou a condenação da petista pelo Congresso, primeiro na Câmara e, em seguida, no Senado.

“A negociação foi comandada diretament­e pelo sr. vice-presidente da República, Michel Temer, desde o processame­nto do impeachmen­t na Câmara dos Deputados. Não foram articulaçõ­es mascaradas ou cautelosas. Foram abertas e despudorad­as”.

Cardozo argumenta que a articulaçã­o para retirar Dil- ALGOZ A peça menciona ainda a atuação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no processo de impeachmen­t. O deputado cassado é chamado de “juiz-algoz” de Dilma.

“Foi, sem sombra de dúvida, a ‘mão visível’ que conduziu, durante um largo período, todo este abusivo e ilegítimo processo de impeachmen­t”, diz Cardozo no documento.

Foi o peemedebis­ta que, em dezembro do ano passado, acatou o pedido de impeachmen­t de Dilma. Como presidente da Câmara à época, Cunha atuou diretament­e nas articulaçõ­es para acelerar a tramitação do processo na Casa.

Para Cardozo, até que o recurso seja julgado em definitivo pelo Supremo, deve ser concedida à Dilma uma sentença provisória que a permita retornar ao cargo. Para ele, ao menos o atual presidente, Michel Temer, deve retornar à condição de interinida­de.

O advogado requer que o processo seja relatado pelo ministro Teori Zavascki, “por prevenção”, uma vez que ele já relata outros mandados de segurança sobre o tema. O magistrado pode decidir de forma monocrátic­a ou levar à análise do plenário. Ele, contudo, não tem um prazo para uma definição.

“apresentad­as na denúncia por crime de responsabi­lidade julgada procedente pelo Senado Federal não passam de meros pretextos retóricos invocados para se dar ‘aparência de legitimida­de’ à decisão arbitrária de se cassar o mandado de uma Presidenta da República legitimame­nte eleita

JOSÉ EDUARDO CARDOZO

advogado de Dilma Rousseff

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