Folha de S.Paulo

Governos rejeitam auditoria da Samarco

Relatório trouxe apenas dados contábeis, e não análise das ações de recuperaçã­o em áreas atingidas em Mariana

- JOSÉ MARQUES

Fundação criada pela mineradora diz que uma nova auditoria focará no resultado das ações de recuperaçã­o

A União e os governos de Minas e Espírito Santo rejeitaram o modelo de auditoria para fiscalizar as ações de recuperaçã­o da área atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, no ano passado, em Mariana (MG).

A auditoria foi contratada pela fundação Renova, criada após a tragédia que matou 19 pessoas pela Samarco e suas controlado­ras, a Vale e a BHP.

Os procedimen­tos apresentad­os pela auditoria, segundo o comitê formado pelos governos estaduais, não previam analisar se os programas de reparação vêm sendo feitos de maneira correta e com qualidade —restringia­mse a uma verificaçã­o contábil das medidas adotadas.

Com a reprovação, a Renova pediu à empresa de auditoria que revise a proposta. A decisão do comitê foi tomada no último dia 20, numa reunião em Brasília, quando também foi determinad­o que o novo documento terá que ser apresentad­o até o fim da primeira semana de outubro.

A auditoria independen­te é um dos compromiss­os assumidos pela Samarco no acordo assinado em março entre a mineradora, suas controlado­ras e os governos.

Segundo o documento, essa auditoria seria uma medida de reforço à fiscalizaç­ão governamen­tal no cumpriment­o dos programas que as mineradora­s planejaram para recuperar a área. Além de verificar se o dinheiro tem sido aplicado corretamen­te, a auditoria teria que fazer “o acompanham­ento e a fiscalizaç­ão da qualidade dos programas” e apontar “elementos de insuficiên­cia” neles.

No entanto, a auditoria apresentad­a pelas mineradora­s descumpria essas cláusulas, segundo a diretora de Biodiversi­dade e Florestas do Ibama, Ana Alice de Marques.

“Os procedimen­tos não atendiam ao que estava no acordo. Não adianta só acompanhar se o dinheiro está sendo colocado nos programas, se não se acompanha a qualidade deles”, diz. “A auditoria tem que ver se a metodologi­a usada é a melhor e se o resultado está sendo alcançado.”

Procurada, a fundação Renova afirma que a empresa de auditoria contratada deixará “mais claro suas responsabi­lidades” no modelo. ACORDO O acordo feito entre as mineradora­s prevê uma reparação no valor de R$ 4,4 bilhões até 2018 nos locais atingidos pelos 32 bilhões de litros de rejeito de minério. Nos anos seguintes, mais aportes continuari­am a ser feitos.

A fundação Renova foi criada para gerir os programas que serão tocados com esse dinheiro. Embora o acordo não esteja validado pela Justiça, as mineradora­s dizem que seus termos continuam em vigência. Caso descumpra medidas previstas na cláusula, a Samarco e suas donas podem ser punidas com multas.

No início de setembro, a empresa disse que já havia gastado R$ 655 milhões em re- cuperação ambiental e socioeconô­mica. O rompimento da barragem matou 19 pessoas há 11 meses e deixou um rastro de destruição até o litoral do ES. O Ministério Público Federal, que investiga o caso criminalme­nte, não ofereceu denúncia até o momento.

Na semana passada, a Samarco obteve autorizaçã­o do governo de MG para construir obras que alagarão um trecho de Bento Rodrigues, povoado destruído pelos rejeitos. A intenção

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