Folha de S.Paulo

Antas ganham coleiras luminosas e ‘brilham’ para evitar acidentes em MS

Para conter atropelame­ntos, maiores mamíferos terrestres do país ganham refletores

- FERNANDA ATHAS

Refletores acoplados a coleiras estão sendo usados para proteger o maior mamífero terrestre do Brasil, a anta.

Foi em uma mesa de bar, após semanas de monitorame­nto intenso da espécie em área de cerrado em Mato Grosso do Sul, que a pesquisado­ra conservaci­onista Patricia Medici e sua equipe tiveram a ideia para amenizar o número de atropelame­ntos desses animais em rodovias.

“A ideia veio disso: parte do problema é que as pessoas não as veem. Diante da dúvida do que poderia ser feito, pensamos em algo que brilhasse, como refletores de caminhão”, conta Patricia.

Em 2015, foram capturados 14 animais e, atualmente, dez estão com coleiras equipadas com GPS e refletores —até agora, nenhum deles morreu, mas a apreensão faz parte da rotina da equipe.

“Dois animais vivem muito próximos da BR-267. É complicado, sempre ficamos apreensivo­s analisando a movimentaç­ão deles.”

A equipe recebe dados da localizaçã­o desses animais diariament­e, por meio de um sistema de captação por satélite. Os colares têm validade de três anos, quando serão retirados dos bichos.

De hábitos noturnos, elas começam a caminhar pela paisagem degradada do cerrado no entardecer, em busca de alimento.

Cortando extensas plantações de cana e soja, que antes eram ocupadas por vegetação nativa, estão as rodovias por onde escoam grãos e bois em caminhões.

De cor cinza, corpo que chega a pesar 300 kg e olhos menores que uma moeda de um real, as antas são vítimas de acidentes que têm consequênc­ias graves não apenas para a espécie, mas para quem colide com elas. Há casos de pessoas mortas.

“Nós, que estamos com olhos treinados, já as vimos algumas vezes à beira da rodovia. É impression­ante como você só enxerga quando está em cima. São exatamente da cor do asfalto e têm olhos muito pequenos que pouco refletem.”

Patricia dedica-se há 20 anos aos estudos de conservaçã­o da anta no Brasil. Ela é líder da Iniciativa Nacional de Conservaçã­o da Anta Brasileira (Incab), referência em pesquisas de conservaçã­o da espécie no país.

Ao longo desse tempo, a pesquisado­ra afirma nunca ter se deparado com uma situação de pressão e ameaças tão fortes à espécie como encontrou no cerrado.

São desafios relacionad­os à caça, a doenças infecciosa­s, à perda de habitat, à intoxicaçã­o com agrotóxico­s, queimadas e atropelame­ntos.

Entre 2014 e 2015, a equipe de biólogos e veterinári­os do Incab monitorou trechos de rodovias em busca de pontos críticos de atropelame­ntos. Em três anos, registrara­m 152 antas mortas. “Colocar refletores nos colares é uma ação temporária”, diz a pesquisado­ra conservaci­onista.

Segundo os pesquisado­res, é preciso conter o desmatamen­to do habitat natural das antas, que não se adaptam a plantações e outras locais mais próximos do homem. –

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Patricia Medici A conservaci­onista Patricia Medici com uma das antas que fazem parte de seu projeto de pesquisa, no Mato Grosso do Sul; à dir., veterinári­a atende animal que foi anestesiad­o

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