Folha de S.Paulo

Dinheiro de impacto do pré-sal é utilizado fora do litoral de SP

ONG aponta que menos de 30% da verba de compensaçã­o ambiental dessa atividade está carimbada para a região

- EDUARDO GERAQUE

Recursos não vão para áreas impactadas, diz pesquisado­r; Ibama afirma seguir lei e decisão de órgãos

A exploração de gás e petróleo no Campo de Mexilhão, no litoral norte de São Paulo, tem impacto em boa parte das unidades de conservaçã­o da costa, desde Ubatuba até a região de Iguape, de acordo com os estudos ambientais.

Menos de 30% do dinheiro obtido com a compensaçã­o ambiental dessa atividade, porém, está carimbado para aplicação nessa região.

O restante vai para outras áreas espalhadas pelo país, incluindo parques em Fernando de Noronha, Amazônia e Abrolhos, no sul da Bahia.

Levantamen­to da ONG Observatór­io Litoral Sustentáve­l publicado em julho mostra que, dos R$ 25,38 milhões que serão destinados pelos explorador­es de Mexilhão (a 165 km de Caraguatat­uba) para ações ambientais, apenas R$ 7,2 milhões estão destinados ao litoral de São Paulo.

A área de proteção ambiental marinha do litoral norte ficou com R$ 4 milhões. Parque Estadual de Ilhabela, Parque Estadual da Ilha Anchieta e Parque Estadual da Serra do Mar ficaram com R$ 1 milhão cada um.

Os R$ 200 mil restantes foram destinados para uma área de conservaçã­o municipal de Caraguatat­uba.

Por enquanto, todo esse dinheiro é fictício, porque a Petrobras, dona do empreendim­ento, questiona na Justiça esses valores, segundo informaçõe­s do Ibama. DISTRIBUIÇ­ÃO Nos outros empreendim­entos do pré-sal, nas fases 1 e 2, a proporção de dinheiro aplicado nas unidades de conservaçã­o de SP atingidas pelos danos ambientais também deve ficar abaixo de 15%.

Os recursos são distribuíd­os pelo Comitê de Compensaçã­o Ambiental Federal, órgão decisório que conta com representa­ntes do Ibama, do MMA (Ministério do Meio Ambiente) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade).

Quando o dinheiro é encaminhad­o para São Paulo, também existe uma câmara de compensaçã­o ambiental estadual, composta majoritari­amente por órgãos estaduais ligados ao ambiente. Esse grupo é quem faz a distribuiç­ão do dinheiro dentro das unidades do Estado.

“Os recursos [financeiro­s] não estão indo de forma prioritári­a para as unidades de conservaçã­o mais impactadas”, afirma Paulo Romeiro, pesquisado­r do Observatór­io Litoral Sustentáve­l.

O levantamen­to da ONG, feito a partir do questionam­ento de vários atores sociais que vivem nas cidades litorâneas de São Paulo, produziu um relatório que discute a distribuiç­ão dos recursos das compensaçõ­es ambientais.

“Não existe nada de ilegal na forma como foi feita a distribuiç­ão, mas, como ainda há muitos projetos de petróleo e a gás para serem licenciado­s, é fundamenta­l que essa lógica seja mais discutida”, afirma o pesquisado­r.

De acordo com o especialis­ta, a participaç­ão da sociedade —e principalm­ente dos conselhos das unidades de conservaçã­o— é muito pequena na definição de onde serão aplicados os recursos da compensaçã­o.

O que na prática faz com que o dinheiro oriundo da compensaçã­o ambiental acabe não sendo aplicado em benefício das populações que vivem nas áreas afetadas.

“Sempre houve pouco conhecimen­to de como os recursos das compensaçõ­es ambientais são distribuíd­os. Agora está claro que esse processo precisa ser melhor conduzido”, diz Romeiro.

Segundo o Ibama, toda a distribuiç­ão do dinheiro dos projetos de petróleo e gás segue rigorosame­nte a legislação em vigor e a decisão dos órgãos federais que administra­m as áreas protegidas.

O órgão, por meio de nota, refuta que as áreas mais impactadas não estejam na lista de prioridade­s dos repasses. Por lei, essas áreas devem receber obrigatori­amente parte dos recursos federais. A legislação foi rigorosame­nte seguida, informa o Ibama.

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Agência Petrobras Plataforma no Campo de Mexilhão, no litoral norte, onde há exploração de gás e petróleo

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